Saiba como tirar o melhor proveito desse modelo de linguagem generativa e ir além do copiar-colar
Edney Souza, professor da ESPM e conselheiro de inovação e tecnologia foi entrevistado no episódio #68 do Primeira Jornada, podcast da ESPM que te prepara para o mercado de trabalho. Ele falou sobre como usar o ChatGPT para estudar.
Segundo o professor, a IA é um caminho sem volta e as inteligências disponíveis — ChatGPT, Google Gemini, Claude, Perplexity ou Microsoft Bing, por exemplo — são tão úteis quanto o Google e a Wikipedia.
Entretanto, o usuário tem que saber extrair o melhor da ferramenta, em vez de se transformar em um mestre em copiar-colar, como muita gente faz. Há um rico caminho de aprendizado para quem deseja saber como estudar nas plataformas de IA, que também vai ser muito importante no universo do trabalho. Confira as dicas de Souza para se fazer o melhor uso da IA:
Nem tudo o que o ChatGPT diz é verdadeiro ou correto
O ChatGPT não substitui o Google, porque não é uma base de conhecimento. Mesmo que forneça o link de uma informação que aparece na resposta, não dá para ter absoluta certeza de que o conteúdo daquele link é completamente verdadeiro.
Segundo o professor, esse modelo de linguagem foi treinado, inclusive com testes online, para verificar sua capacidade de passar em determinadas avaliações e na média ele alcança cerca de 90% de acerto.
“Se você vai usar a plataforma para estudar, pode ser que esteja estudando alguma coisa errada, porque há uma média de 10% (de erro). Então é importante ter essa consciência de que não é uma base de conhecimento e não está sempre certo, mas é mais certo que a média dos seres humanos”, afirma.
Uso inteligente do ChatGPT
Muito se fala que o segredo de usar a IA é saber fazer perguntas, mas o especialista discorda. Para ele, o ChatGPT não é uma ferramenta para perguntas, mas para desempenhar tarefas. Faz sentido quando se pensa que não adianta ser muito bom em perguntar sem saber se a resposta está correta — e como já foi dito: IA generativa não é base de conhecimento.
Em contrapartida, a ferramenta é ótima para obedecer a comandos e executar, por isso o segredo é criar os melhores prompts, orientando detalhadamente. Quando se usa o ChatGPT para estudar, o objetivo maior é a ferramenta ajudar o estudante a desenvolver um processo e um método de como compreender alguma coisa. Se o aluno tem dificuldade de entender, fixar e decorar um tema, ou de organizar o tempo de estudo, a plataforma pode ser útil na organização da agenda e para explicar de outras maneiras um determinado conhecimento, princípio, teoria ou fórmula de difícil assimilação.
A pessoa pode dar um comando, esperar a resposta e pedir para a plataforma avaliar a qualidade da resposta e sugerir como ela poderia ser melhorada. Também é possível pedir para o ChatGPT criar um teste sobre determinado assunto, fornecendo os conteúdos que o teste deve ter — com isso, o aluno percebe que não está fazendo perguntas, mas está pedindo para a IA executar uma tarefa e esse é o melhor estudo.
Exemplos práticos melhoram a aprendizagem
Quando vai estudar um tema com o qual tem mais dificuldade, o aluno pode pedir que a ferramenta cite e explique onde aquele assunto, fórmula ou teoria está sendo utilizada e solicitar exemplos práticos. Assim é mais fácil fixar os conhecimentos, já que o ChatGPT, muito mais que uma solução, fornece caminhos e direcionamentos e auxilia na formação reflexiva do indivíduo.
Como resultado, a IA ajuda a validar o que foi aprendido, o que é mais interessante do que dar respostas. As respostas, diz Souza, “a gente já tinha na Wikipedia, no Google e inclusive antes da internet. Estudar nunca foi sobre decorar respostas e sim sobre aprender e internalizar, embora o sistema de ensino leve o estudante a decorar”. Por conta disso, o professor defende a utilidade da plataforma para explicar e fazer simulados que permitam as pessoas testarem seu conhecimento sobre determinado assunto.
Ao solicitar que a IA crie um teste simulado e avalie os resultados das suas respostas, vale pedir para o modelo de linguagem explicar porque o aluno errou uma questão. Aqui é importante ter consciência de que a máquina pode fazer uma pergunta ruim e dar uma explicação ruim, mas isso também pode acontecer com um teste mal feito ou um professor mediano. Portanto, a dica é estar atento, checar informação e aproveitar para aprender com a ferramenta, que está sempre disponível e o professor não.
Como fazer trabalhos sem copiar-colar
Um erro comum é copiar as respostas literais da plataforma e entregar o trabalho para o professor, sem levar em conta que pode haver inconsistências e incoerências. Na versão paga do ChatGPT é mais fácil de identificar erros, pedindo para o app citar de onde trouxe fatos e dados, e validar essas informações. Se for o caso, use IAs gratuitas que citam a fonte, como o Google Gemini.
Embora muitos estudantes não considerem importante, porque se garantem na margem de 10% de erro do ChatGPT, é fundamental checar as informações para ter certeza de que estão corretas. Além de sair do modo “tirar nota boa para passar”, o aluno já vai treinando para usar a ferramenta quando estiver no mercado de trabalho, desenvolvendo a acurácia na captação de informações.
Outro ponto que merece atenção é o estilo do texto. Um professor identifica facilmente se o aluno copiou o texto da IA, e quem cultivar esse mau hábito e levá-lo para a vida profissional pode se dar mal. “Se tiver muita cara de ChatGPT, não só o professor, mas no seu futuro profissional, quando o seu chefe vir e achar que o texto foi copiado e colado do ChatGPT, como ele vai olhar para você?”, questiona Souza. “Vai olhar para você como uma pessoa cujo trabalho não tem valor. Se a pessoa só tá copiando colando do ChatGPT, o chefe pensa ‘eu não preciso dela aqui, dou o comando e copio e colo eu mesmo’”.
Como editar bem o texto
O básico da edição é substituir as palavras que a pessoa não utiliza habitualmente por um vocabulário que seja mais condizente com ela. O segundo ponto é acrescentar histórias, ou seja, adicionar informações sobre aquele tema que se conectem com a vida, a história e a personalidade do estudante. Quando incorpora histórias num resultado, aquilo se torna dele, porque contém uma experiência embutida. Melhora não só o valor do resultado, como deixa claro que aquele material não foi inteiro copiado e colado.
Existem maneiras de treinar o ChatGPT quanto a vocabulário, estilo de texto e de linguagem. Peça para a ferramenta analisar um texto de sua autoria e dizer qual é a personalidade, o estilo, o tom, o vocabulário e o propósito desse texto. Com base nas respostas, oriente a ferramenta a criar um texto usando as características que ela já analisou. O modelo de linguagem vai entregar um texto parecido com o seu estilo, mas ainda assim será necessário editar palavras que não fazem parte do seu vocabulário e incorporar histórias.
https://youtu.be/ae20xoigWkE?si=IoqwJ1jgtIkEIezb
Outras ferramentas úteis de IA
Além dos modelos de linguagem, Edney Souza recomenda duas IAs que ajudam os estudantes:
1. Clarice
Clarice é uma inteligência artificial que faz revisão ortográfica e de estilo e foi batizada em homenagem à escritora Clarice Lispector. Por ter sido criada no Brasil é muito boa para revisar ortografia em língua portuguesa. O interessante é que Clarice não só aponta o que precisa ser mudado, mas explica porque precisa ser alterado. Como resultado, a pessoa aprende mais sobre redação e estilo.
2. Gamma
A Gamma cria apresentações. O ideal é redigir o texto em um documento, inseri-lo na ferramenta e acionar a opção “texto para apresentação”. Ela faz um resumo do material no formato de apresentação e entrega um arquivo bem estruturado e bonito visualmente, inclusive com imagens.
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