Um em cada três jovens se declarou vítima de bullying online, segundo pesquisa do UNICEF
Você já sofreu cyberbullying? Se sua resposta for “sim”, saiba que você faz parte de uma estatística terrível: um em cada três jovens já foi vítima de algum tipo de assédio virtual. É o que apontou a pesquisa “Violência contra as Crianças”, realizada em 2019 pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) com mais de 170 mil jovens de 13 a 24 anos em 30 países. E o levantamento tem fôlego para surpreender ainda mais – negativamente: um em cada cinco relata ter saído da escola devido a cyberbullying ou algum tipo de violência sofrida.
Traduzindo: a violência física ou moral, que antes acabava quando o aluno saía do ambiente da escola, se tornou um ato contínuo, ao ficar 24 horas por dia em funcionamento nos ambientes online.
Com o sigilo garantido pelo uso da ferramenta de engajamento U-Report (que permite troca de mensagens entre os jovens de modo gratuito de qualquer lugar do mundo sobre qualquer assunto), os participantes da pesquisa apontam as redes sociais como os locais mais comuns para os ataques – citando nominalmente Facebook, Instagram, Snapchat e Twitter.
Apesar da importância do estudo, uma questão ainda não foi abordada – e que não poderia ficar de fora da equação na busca por soluções: sabemos quem são as vítimas, mas não quantos e quem são os que praticam essa violência. Eis uma pesquisa que precisa ser feita.
Veja abaixo alguns dados revelados pela pesquisa:
A responsabilidade pelo combate ao bullying virtual, segundo os jovens:
Governos 32%
Os próprios jovens 31%
Empresas de internet 29%
Curiosamente, a escola não aparece como agente na visão dos jovens.
Para 55% dos jovens brasileiros, a responsabilidade pelo combate ao cyberbullying é dos próprios jovens.
Não é coisa de país rico
Não seria descabida a tentação de achar que o bullying online fosse mais comum em países ricos. Neles, talvez possa até ser um fenômeno mais comum, talvez por um hipotético maior acesso dos jovens à tecnologia. Neste caso, a pesquisa se debruçou sobre países em desenvolvimento – e os dados desmentem essa interpretação.
Países participantes da pesquisa
Albânia
Bangladesh
Belize
Bolívia
Brasil
Burkina Faso
Costa do Marfim
Equador
França
Gâmbia
Gana
Índia
Indonésia
Iraque
Jamaica
Kosovo
Libéria
Malásia
Malawi
Mali
Mianmar
Moldávia
Montenegro
Nigéria
Romênia
Serra Leoa
Trinidad e Tobago
Ucrânia
Vietnã
Zimbábue
Ações governamentais antibullying
A Finlândia foi um dos primeiros países a criar uma lei específica para esse tipo de violência escolar. Lá os agressores podem ser punidos com penas que vão desde o pagamento de multas à restrição de movimentos, e as escolas podem ser processadas por negligência.
No Reino Unido, não há legislação específica (aplica-se a legislação existente contra assédio e perseguição). Porém, foi uma das regiões pioneiras a obrigar escolas a terem um “plano antibullying”, com políticas e ações muito claras.
Já o Brasil optou pelo caminho legal: em maio de 2018, entrou em vigor a Lei 13.663/2018, que inclui entre as atribuições das escolas a promoção da cultura da paz e medidas de conscientização, prevenção e combate a diversos tipos de violência – bullying incluído. Na verdade, trata-se de um acréscimo ao artigo 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB- Lei 9.394/1996).
Para especialistas, porém, a falta de um diagnóstico e de penas claras faz com que a obrigação recaia, na prática, apenas sobre os colégios, que podem ser processados pelos casos.