Assistir aulas em ritmo acelerado pode prejudicar aprendizado, dizem especialistas

Professores do ESPM LifeLab explicam que dobrar a velocidade de vídeos e podcasts “pode até ajudar” em emergências e outras situações, mas hábito traz impactos para a absorção do conhecimento e consolidação do aprendizado

 

Atire a primeira pedra quem nunca acelerou um vídeo para ganhar mais tempo ou para driblar os preâmbulos das narrativas. Esse recurso tecnológico tem se tornado o dia a dia de muita gente para ganhar produtividade. Tanto que os canais de streaming, atentos à necessidade de quem busca maratonar suas séries preferidas, oferecem a opção de acelerar séries e filmes.


Mas qual será o impacto que acelerar os vídeos e áudios pode causar ao aprendizado, especialmente em tempos aulas online? Até que ponto isso é bom ou ruim? O professor Danilo Torini, do ESPM LifeLab e coordenador de Pesquisa Pedagógica – NIP da ESPM-SP, explica que esse tipo de avaliação depende do objetivo do aluno: para fazer um escaneamento do que será tratado no episódio da aula? Para recordar o conteúdo específico? Para ir direto ao ponto de sua dúvida?


“No caso do aprendizado, ao contrário do streaming, o aceleramento do vídeo não funciona de maneira satisfatória”, revela. “Aprender requer atenção, tem a ver como o funcionamento do cérebro, é necessário ritmo e velocidade adequados, isto é, naturais para a memorização.”

 

Mais velocidade, menos atenção

Quando se fala em estudo e aprendizado, como acrescenta o professor Cristiano do Amaral Britto de Castro, coordenador do ESPM LifeLab, o foco e a concentração têm de ser plenos. “Existem atividades possíveis de serem feitas simultaneamente. Porém, não é o caso de estudar. O processo de aprendizado, para ser consolidado, precisa passar por etapas que não podem ser “puladas”, alerta o coordenador. “No modo acelerado, é difícil você prestar atenção em tudo o que o professor fala, especialmente quando a velocidade está muito acima da que o cérebro consegue processar a informação.”


Ou seja, ao aumentar a velocidade do áudio ou do vídeo, de alguma maneira estamos dificultando esse processo. Isto é, diminuindo a capacidade/’força’ do nosso ‘ímã interno’ de ‘atrair’ informações e também de absorvê-las para arquivá-las na memória. Se for muito rápido, não dá para processar.”

 

Prejuízos a longo prazo

Na opinião do professor Cristiano, os efeitos da aprendizagem mais acelerada podem ser danosos para todos os grupos. Mas podem afetar principalmente as crianças — que podem levar esse “jeito de aprender” para sempre.


“Pensando em potencial de aprendizagem, as crianças saem em grande desvantagem, uma vez que ainda muitas nem foram alfabetizadas, não passaram processo de construção textual”, acrescenta o professor Torini. “Pode até impactar em questões de ansiedade, de ter dificuldade para entender que existem tempos diferentes para as atividades, que aprender não é como nos jogos.”

 

O que dá para acelerar?

Acelerar pode ser válido em determinadas circunstâncias: “escanear” um conteúdo para saber o que esperar dele, mapear um sumário, encontrar um episódio dentro de um episódio ou determinada informação, fazer uma revisão. “Nesse caso, não existe a preocupação em garantir a memorização — ou seja, o conteúdo já foi estudado e o recurso pode funcionar para reforçar o link”, avalia Torini. “E também quando a informação não é relevante para aprendizagem, não precisa estar no arquivo de uma memória mais imediata para se consolidar como de longo prazo.”


Além disso, depois do contato com o conteúdo há uma queda rápida na capacidade de memorização — bastam apenas 20 minutos. Depois de uma hora, a tendência é lembrar menos de 50% — e isso em condições normais. Portanto, em um processo com “menos atenção”, com acesso a informação que não parte dos 100%, a absorção é ainda menor — já que as memórias de curto e longo prazos sequer nem partem do acesso ideal (não conseguem processá-las e conectá-las às memórias passadas).

 

Aprender leva tempo

Para que a aprendizagem seja efetiva, a informação tem que fazer uma conexão com a memória de longo prazo, que já possuímos. “Ela precisa ser absorvida como memória imediata (de trabalho) para se linkar com a de longo prazo, ou seja, a definitiva”, acrescenta Torini.


Por isso, criar subterfúgios para fazer o processo acontecer mais rápido nem sempre dá o resultado esperado — é o mesmo que desejar correr a maratona sem treinar. Não vai rolar, não é mesmo?


No fim, acelerar a aula e ter que voltar para reouvir as informações e anotá-las resultará no mesmo tempo da aula inteira em velocidade normal. “O processo para o conhecimento demora e as coisas têm o seu tempo. Ainda não inventaram uma fórmula mágica para isso”, conclui o professor Cristiano.

 

 

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