20 filmes que retratam o horror das fake news

Desde quando o termo pós-verdade foi escolhido como a “palavra do ano” em 2016 pelo dicionário Oxford, os fatos têm dado lugar às versões. E os filmes refletem essa nova realidade

 

Quem poderia imaginar, na virada do século, que chegaríamos ao ponto de as versões se tornarem mais importantes que os fatos na luta por corações e mentes? E que se tornariam comuns as tentativas (muitas, infelizmente, bem-sucedidas) de modelar e manipular a opinião pública – algo como “se os fatos não confirmam minha visão de mundo, pior para os fatos”?

 

Agora que essa realidade se instalou e já sentimos seus efeitos deletérios, como a polarização que empobrece o debate e a troca de ideias, cada dia mais os filmes se debruçam sobre esse fenômeno que busca desqualificar o jornalismo, desidratar a realidade factual e resumir tudo a um primário contra ou a favor. Aqui, reunimos alguns deles.

 

A Arma Perfeita (2020)

 

 

Apesar de estar centrado mais nos ataques cibernéticos entre países, perpetrados pelos EUA ou sofridos por ele de nações como Irã, Rússia, China e Coréia do Norte, o documentário monta um bom pano de fundo para os eventos que escalaram até a eleição de 2016, como o hackeamento de mensagens dos democratas (como os e-mails de Hillary Clinton), e chegam até o pleito de 2020. Tudo servindo de matéria-prima para a criação e o espalhamento de… fake news.

 

A Conspiração Antivacina (2021)

 

Filme A Conspiração Antivacina, de 2021
Foto: Reprodução HBO Max

 

Ao investigar o atual movimento antivacina no contexto de alguns lugares dos Estados Unidos, o documentário mostra o efeito deletério de misturar religião e capitalismo com boas pitadas de fake news. Relembra a origem desse movimento, de 1995, quando um professor de gastroenterologia de uma escola de Londres, Andrew Wakefield, publicou na renomada revista médica The Lancet que a vacina contra sarampo causaria uma inflamação dos intestinos chamada doença de Crohn e que a Tríplice Viral seria a responsável por casos de autismo em crianças. Uma revisão da pesquisa por outros cientistas apontou que o que foi feito não permitia a conclusão anunciada, sendo apenas uma tentativa de desacreditar a empresa produtora das vacinas. A fake news, porém, já havia dado a volta ao mundo. E o filme mostra como se arquiteta o movimento de manipular informação e desenvolver a descrença na verdade.

 

A Guerra que Você Não Vê (2010)

 

 

Qual o papel da imprensa dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha na formação da opinião pública durante a Guerra do Iraque – sobre o conflito em si e a imagem do povo iraquiano? Essa pergunta (às vezes incômoda) é a que este documentário tenta responder, relembrando que a justificativa para o conflito foi uma fake news: o arsenal atômico do país. E aborda o papel das relações públicas nos combates, como a construção da crença de que a Primeira Guerra era benéfica para os EUA.

 

A sombra de Stalin (2019)

 

 

Mostra a saga do jornalista galês Gareth Jones que empreendeu, em 1933, uma jornada perigosa pela União Soviética de Stalin (na verdade, pelo atual território da Ucrânia). Ele foi o primeiro repórter a descobrir (e revelar) uma verdadeira conspiração do governo que matou milhões de fome – o horror por trás da imagem construída pelo regime de uma utopia da sociedade igualitária soviética.

 

A Terra é Plana (2018)

 

 

Afinal, quem são as pessoas que acreditam na terra plana? Não, este não é um documentário para satirizar ou as diminuir, mas que busca ouvi-las e entender a natureza do fenômeno. E que (pasmem!) sugere como a arrogância de cientistas e seu distanciamento do cidadão comum, “inferior” em comparação aos doutores e PhDs (e simplesmente rotulados de “ignorantes” por eles), pode ter contribuído para que se chegasse ao que temos hoje. Em uma das cenas, em uma reunião de experts, um dos físicos presentes aponta que a postura de isolar ou diminuir essas pessoas é tão reprovável quanto a própria fé na terra plana.

 

A Verdade da Mentira (2020)

 

 

Neste documentário brasileiro, a diretora Maria Carolina Telles busca radiografar como estrategistas políticos se utilizam da desinformação e do potencial das redes sociais para fomentar a polarização – considerando, claro, as bolhas e a ação dos algoritmos para criar a falsa sensação de que todos pensam como nós (ou para nos fazer pensar como todos os demais ao redor). Mas não há espaço para vitimização: a obra também questiona se há um desejo do público por ser manipulado…

 

Agentes do Caos (2020)

 

 

A interferência russa e suas estratégias de manipulação de informações nas redes sociais que levaram à eleição de Trump em 2016 é a base da investigação desse documentário de quatro horas de duração (divididas em duas partes). Com entrevistas surpreendentes, como a de investigados e de ex-funcionários do governo, os acontecimentos são revisitados em detalhes. Um belo trabalho investigativo.

 

Brexit (2019)

 

 

Esse filme retrata como Dominic Cummings (interpretado por Benedict Cumberbatch) trabalhou na coordenação da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia no referendo de 2016. Traduzindo: esmiúça como ele utilizou (de modo pioneiro, diga-se) dados pessoais e microdirecionamento nas redes para influenciar no resultado junto a eleitores que estavam fora do alcance das campanhas convencionais (algo que vimos depois se repetir nos EUA no mesmo ano e até mesmo no Brasil, em 2018).

 

Cercados – A imprensa contra o Negacionismo na Pandemia (2020)

 

 

O documentário brasileiro retrata o peculiar (e, por vezes, humilhante) cotidiano de jornalistas em busca de informações sobre as ações do governo no combate à pandemia de covid-19 à frente do Palácio da Alvorada. Confinados em um cercadinho ao lado de outro dedicado aos apoiadores do presidente e de seu negacionismo feroz.

 

Conspi Hunter: Como Surgem as Teorias da Conspiração (2015)

 

 

A ideia é original e, de algum modo, perturbadora: esse documentário foi o pioneiro em criar uma falsa teoria da conspiração sobre atos terroristas (como a eventual participação do governos ou que a verdade está sendo escondida) para mostrar como ela pode ser criada e, pior, acompanhar como ela se espalha – e quanto tempo ela leva para viralizar nas redes sociais até ser, de algum modo, validada por jornais, revistas e telejornais. Mas a obra (ufa!) também aponta caminhos de como combatê-la.

 

Democracia em Vertigem (2019)

 

 

Este concorrente ao Oscar de melhor documentário no Oscar acompanha o desenrolar de eventos como as manifestações de 2013/14 até a deposição de Dilma Rousseff – sempre pela ótica da disseminação de desinformação que esgarçaram o tecido institucional e democrático do Brasil.

 

Depois da Verdade: Desinformação e o Custo das Fake News (2020)

 

 

Como a vida de pessoas comuns (e, no final do dia, a própria sociedade) é afetada/impactada/modificada pelas fake news, por mentiras, teorias da conspiração irresponsáveis e pelo que chamamos de engenharia social? Eis o que quer responder este documentário do diretor Andrew Rossi.

 

Mera coincidência (1997)

 

 

Para tirar o foco de um escândalo sexual envolvendo o presidente dos EUA, um produtor de Hollywood é chamado para produzir uma falsa guerra. O nome original (em inglês Wag the Dog, que pode ser livremente traduzido por “balance o cachorro”) se refere à manipulação das pessoas pelos políticos com uma velha piada: “Por que o cachorro balança o rabo?” “Se não fosse assim, o rabo é que balançaria o cachorro.”

 

Não Olhe Para Cima (2021)

 

 

Alienação social como sintoma da dupla negação/desinformação (e de inação governamental) é o ponto central do controverso (e acidamente engraçado) filme de ficção em que um elenco estelar conta a história da saga de cientistas que tentam alertar a humanidade sobre a eminente extinção de vida no planeta por causa de um asteroide que se dirige à Terra.

 

Negação (2016)

 

 

Baseado na história real da historiadora Deborah Lipstadt, estudiosa do Holocausto, que sofre um processo por difamação movido por David Irving, simpatizante do Nazismo – por ter sido chamado de negacionista. Nesse imbróglio jurídico, coube a ela provar que Irving mentia sobre os eventos de extermínio judeu na II Guerra na Alemanha sob o comando de Hitler.

 

O Abutre (2014)

 

 

A perturbadora história ficcional de um delinquente de Los Angeles que descobre uma vocação macabra ao presenciar como uma equipe de TV filma de modo sensacionalista e desumano um acidente de trânsito. Mas tudo fica ainda mais perturbador quando ele resolve manipular cenas de crime para tornar ainda mais chocantes suas “reportagens”.

 

O Dilema das Redes (2020)

 

 

Esse documentário reúne depoimentos de especialistas em tecnologia do Vale do Silício em que eles alertam sobre o impacto das redes sociais, o uso de dados por empresas, a criação de bolhas pelos algoritmos – e, claro, pelo risco às democracias e a prevalência das fake news em um ambiente manipulado pelas empresas e pela tecnologia.

 

O Século do Ego (2002)

 

 

Esta série documental britânica, anterior ao reinado das redes e da própria internet, já abordava como técnicas de psicanálise podem ser utilizadas de modo distorcido por governos e empresas para induzir comportamentos – basicamente atingindo o subconsciente e provocando o lado irracional das pessoas.

 

Privacidade hackeada (2019)

 

 

O documentário utiliza como ponto de partida o episódio do Brexit, em que se recorreu aos serviços da Cambridge Analytica para monitorar as pessoas, a partir de informações que elas mesmas tornam públicas em suas “redes pessoais”, para influenciar seu voto ou manipulá-las pelo medo ou pela apatia. Enfim, mostra como ferramentas modernas conseguem remodelar o mundo e transformar a sociedade – e analisa como esse mesmo fenômeno se repetiu em situações como as eleições norte-americanas e de Trinidad e Tobago.

 

Rede de Ódio (2020)

 

 

A produção polonesa mostra como um estudante com problemas de relacionamento social se torna um troll sem escrúpulos que dissemina notícias falsas e incita o ódio virtual contra celebridades e políticos. E esse dom para a manipulação das redes sociais o leva a ser contratado por uma agência para publicar fake news – e ele passa a interferir numa disputa eleitoral, mas com vistas a tirar proveito próprio da situação.

 

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