Como a cultura pop influenciou as eleições dos EUA

Engajamento de músicos, tiktokers e gamers motivou a participação de jovens, colaborando para um recorde de participação popular nas eleições estadunidenses

 

Por Marcella Lizaso

 

Um importante evento tomou lugar no mês de novembro: as eleições americanas. Apesar dos resultados afetarem diretamente somente os estadunidenses, as votações costumam ser acompanhadas pelo mundo todo, já que, mesmo que indiretamente, a grande potência norte americana acaba afetando todos.

 

Este ano, entretanto, tudo está diferente. Em primeiro lugar, estamos vivendo em um contexto pandêmico, que faz com que as eleições sejam feitas de modo diferente. Além disso, o país encontra-se em uma polarização política enorme não vista desde a guerra civil americana. Sabe-se também que, diferentemente do sistema de votação brasileiro, o voto para os estadunidenses é facultativo.

 

Levando em consideração todos esses aspectos, vemos uma importante diferença nas eleições deste ano para as outras. O governo Trump é questionado por grande parte da nação, principalmente pelas gerações mais novas, que vêm ganhando cada vez mais espaço e que, este ano, possuem um número maior de eleitores que completam 18 anos. Insatisfeitos com o modo com que Trump lidou com protestos de Black Lives Matter ou movimentos supremacistas, por exemplo, esses jovens se encontraram e se descobriram como parte essencial da política e democracia nacional.

 

Desse modo, o engajamento com essas eleições, em especial, bateu recordes de maior participação vista em anos em alguma votação presidencial estadunidense. Por conta dessa vontade imensa de participação que surgiu devido ao contexto explicado, movimentos de incentivo a votação passaram a ocorrer. Consequentemente, pessoas com grande influência e plataformas grandes passaram a se posicionar. Pode-se dizer, portanto, que pessoas influentes da cultura pop tiveram um grande papel na histórica eleição presidencial estadunidense de 2020.

 

Um exemplo dessa mobilização é a decisão da revista Time de substituir sua logo na capa pela primeira vez na história. A empresa trocou seu nome pela palavra “Vote” e apresentou uma capa que simboliza a participação mesmo durante o período de distanciamento em que estamos vivendo. A revista disse “Para marcar esse momento histórico, (…) nós, pela primeira vez em nossos quase 100 anos de história, substituímos nossa logo na capa da edição estadunidense, com o imperativo para que todos nós exerçamos nosso direito de voto. Para ajudar, nós providenciamos para os leitores um guia de como votar com segurança durante este ano extraordinário(…)”.

 

Revista Time mudou seu logo para a palavra “Vote” Foto: Reprodução

Tiktokers e fãs de K-pop engajados

 

Outro exemplo que se destacou este ano é o aplicativo TikTok. O aplicativo é famoso entre as pessoas mais novas e, durante a pandemia, sua utilização cresceu exponencialmente. É inegável a influência que esse aplicativo tem sobre os jovens, criando uma massificação de hábitos e ideais com a popularização dos vídeos. Trends no app possuem mais engajamento que qualquer mídia social e influencers como Charli D’Amelio, com quase 100 milhões de seguidores no aplicativo, sendo a mais seguida, se posicionaram pedindo que seus seguidores votem. Eleitores republicanos criaram diferentes músicas que viralizaram no app e muitos influencers se posicionaram a favor do candidato democrata, Joe Biden.

 

Durante o período de campanha dos candidatos, o aplicativo mostrou o poder que tinha ao boicotar um dos rallies de Donald Trump. Um jovem publicou um vídeo falando para pessoas se inscreverem no evento e não comparecerem e Trump esperava milhares de seus eleitores quando, na verdade, o evento foi um fracasso graças a mobilização de pessoas do “Alt TikTok” e fãs de Kpop. Desse modo, pode-se ver uma grande influência.

 

 

Artistas se posicionam

 

Outra mobilização grande foi entre cantores. Taylor Swift, por exemplo, é uma das mais reconhecidas artistas norte americanas e se posicionou pela primeira vez em uma eleição em 2016, questão tratada em seu documentário “Miss Americana” disponível na Netflix. Este ano, focada em fazer uma mudança, a cantora fez inúmeras publicações e vídeos explicando a importância do voto e seu posicionamento como eleitora de Joe Biden.

 

Pela primeira vez em sua carreira, a cantora permitiu a utilização de uma música dela com fins políticos. Ela publicou um vídeo para sua música “Only The Young”, lançada junto ao documentário citado anteriormente. O clipe mostra imagens de protestos, brutalidade de polícia, os famosos “wildfires” e o presidente Donald Trump jurando pela nova juíza da Suprema Corte Amy Coney Barrett. A propaganda também mostra o candidato democrata Joe Biden confortando um menino.

 

 

Outra cantora que se posicionou foi Katy Perry. A artista saiu na rua com uma fantasia escrita “Eu Votei” e publicou um vídeo na internet mostrando seu percurso. Lady Gaga participou de um dos eventos de Joe Biden, usou roupas com o verbo “votar” no imperativo e fez diversas publicações nas redes sociais. A cantora Billie Eilish postou vídeos e fotos influenciando seus seguidores a votar, falando que não é um assunto que ela normalmente aborda mas que sentiu necessidade extrema de falar. A cantora foi convidada pelo presidente Trump para participar de seu evento, mas, como esperado devido a passadas afirmações da artista, ela recusou. Lil Pump, um rapper, declarou seu apoio a Donald Trump e compareceu a um dos eventos além de fazer diversas publicações em suas redes sociais.

 

Além de cantores se posicionando, algo curioso que vimos este ano foi a candidatura do famoso rapper estadunidense Kanye West. Na última eleição o cantor se posicionou a favor de Trump, mas após os resultados sugeriu uma candidatura em 2020 que se concretizou. Kanye já fez diversas afirmações controversas, como falar que escravidão foi uma escolha, além de ser diagnosticado como bipolar e fazer declarações polêmicas. Com os seus ideais mais conservadores, prezando a igreja como fator essencial na nação e se posicionando como contra o aborto, o artista investiu milhões de dólares em sua campanha, mas não parece que terá votos significativos.

 

Política nos games

 

No ramo dos games, as eleições também foram uma pauta importante. Em uma terça-feira de noite, mais de 400.000 pessoas assistiram a Representante Alexandria Ocasio-Cortez, jogar o jogo viral “Among Us” no Twitch e o stream virou um dos mais assistidos de pessoas solo. Durante a transmissão, a mulher foi passando informações sobre as votações e incentivando pessoas a votarem no candidato democrata. Além disso, políticos e companhias de games estão usando videogames para promover educação de leitores e incentivo de participação.

 

O candidato Joe Biden criou sua própria ilha no jogo “Animal Crossing: New Horizons”. Nela, jogadores podem entrar por meio de um código e visitar um jardim com rosas vermelhas, azuis e brancas, podem ver caminhões de sorvete, cabines de votação e atrações com o tema central sendo Joe Biden.

 

Ademais, o jogo “NBA 2K21”, em parceria com a organização More Than A Vote de atletas e artistas pretos como James, Odell Beckham Jr., Kevin Hart e outros, criou uma série educacional para consumidores do jogo para assistir enquanto o jogo carrega. Além disso, os jogadores também verão billboards dentro do jogo com a palavra “Vote” neles.

 

Em conclusão, pode-se dizer que as eleições são um evento que se tornou muito importante mundialmente. O uso da internet, o contexto em que vivemos e, sem sombra de dúvidas, a influência da cultura pop fizeram a proporção das eleições presidenciais aumentar muito. Com o engajamento visto, é possível afirmar que o investimento em informação em plataformas grandes de cultura popular é necessário, já que a participação deles pode ser muito efetiva. Cada vez mais, os estadunidenses e pessoas ao redor do mundo passam a ter noção da importância de sua participação na política e de exercer seu direito de voto.

 

Conteúdo originalmente publicado no Newronio, blog escrito pelos alunos do Arenas ESPM, agência experimental do curso de Publicidade e Propaganda da ESPM.

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