Influenciador digital debateu a origem e os impactos das notícias falsas com Gabi Oliveira, do canal DePretas, e Aline Midlej, da GloboNews, no YOUPIX Summit
“As fake news sempre existiram, desde que o mundo é mundo, desde que aprendemos a fofocar”. A afirmação é do influenciador digital Felipe Neto. Ele participou de um painel no YOUPIX Summit sobre a origem e os impactos das notícias falsas. Também estiveram no encontro virtual, Gabi Oliveira, criadora do canal DePretas, e Aline Midlej, âncora do Jornal da GloboNews, que conduziu a conversa.
Ao iniciar o debate, Aline lembrou que as fake news já eram um assunto urgente antes mesmo da pandemia de Covid-19. “A desinformação a serviço do ódio, do fanatismo religioso, do fanatismo político, do negacionismo, já estava desafiando o mundo todo. Agora, mais ainda, porque se as fake news antes já matavam reputações e a nossa capacidade de coexistir como sociedade nas nossas diferenças, agora impactam diretamente na saúde pública”.
Gabi avaliou que as pessoas só percebem o impacto de uma notícia falsa quando são diretamente atingidas. “A percepção que tenho é que enquanto a fake news não é usada contra você, tudo certo. As pessoas acham que quando está de acordo com aquilo que elas acreditam e com a ideologia delas, tudo bem. A partir do momento que atacam alguém que elas gostam ou defendem, aí começam a se atentar.”
Felipe lembrou que as fake news não são um fenômeno novo e que boatos como a “carne de minhoca do hambúrguer do McDonald’s” já destruíam reputações de empresas e indivíduos há muito tempo. Na opinião do influenciador, o que existe de diferente hoje é uma rede articulada para a criação e propagação de conteúdos falsos. “O que a gente viu agora e todo mundo deu atenção é para a existência de uma articulação do ódio criada com o intuito de realmente produzir notícias fraudulentas para destruir reputações, implantar teorias da conspiração e vislumbrar o poder”.
O youtuber alertou ainda que não temos uma definição clara do que são as fake news e que é importante diferenciar erros cometidos por veículos de imprensa dessa “articulação do ódio”. Aline acrescentou que o jornalismo profissional está atuando no combate a desinformação. “As fake news não são produto do jornalismo profissional. Na verdade, a gente está aqui do outro lado justamente para combater junto à sociedade. Uma das estratégias dessas máquinas de mentiras é justamente atacar os grandes veículos de comunicação, como vem acontecendo aqui no Brasil.”
Gabi, do canal DePretas, afirmou que as fake news também têm sido utilizadas para a desarticulação de movimentos sociais. Ela citou, por exemplo, os casos da vereadora Marielle Franco, assassinada por milicianos em 2018, e do garoto Marcos Vinicíus, de 14 anos, morto no mesmo ano durante uma operação policial no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Ambos foram vítimas de notícias falsas que os associavam ao tráfico de drogas. “Quando as pessoas se sensibilizam, o mais comum é que se unam para buscar justiça, que pressionem o governo, as autoridades para o caso ser solucionado. A partir do momento que as pessoas começam a se estruturar para buscar justiça, logo surgem as fake news.”
Como combater?
Felipe, que participou de algumas reuniões com parlamentares envolvidos na discussão do projeto de lei contra as fake news, aprovado no Senado e que deverá ser votado em breve na câmara dos deputados, criticou o que vem sendo proposto. “A solução não está no vigilantismo. Essa ideia de vamos acabar com o anonimato na internet, não só não existe, como é ingênua”, comentou o influenciador. “Hoje o projeto de lei como está vai pegar o que chamamos de tia do zap, ou o tio do churrasco. Essas pessoas que vão ser pegas com a questão da retroatividade de checagem de mensagens trocadas no WhatsApp, com a quebra dos IPs. Não vai chegar nos articuladores do ódio, que já usam VPN e máscara de IP há anos.”
Para o youtuber, o propósito de uma lei para combater as fake news deveria ser a transparência. “Para que as plataformas sejam transparentes sobre onde está o dinheiro que financia a divulgação de conteúdos patrocinados. Transparência sobre números e origem.” Felipe também cobra mais proatividade das mídias sociais no combate à desinformação. “Não dá mais para fazer como o Mark Zuckerberg fez nos últimos anos: sentar e falar ‘Ah, deixa que os países criem as leis. Vou ficar esperando aqui’. Por isso, criaram-se movimentos, como o Sleeping Giants e o Stop Hate for Profit nos EUA, que tirou bilhões de dólares de investimento de publicidade no Facebook para que de uma vez por todas eles tirassem os discursos de ódio promovidos por dinheiro de empresas. É necessário cobrar atitudes e que essas plataformas passem a agir”.
Gabi também acredita que uma lei é importante para cobrar mais ação das mídias sociais. “Entendo que uma das principais coisas que precisa nesse projeto de lei é que as redes sociais precisam trabalhar para repassar a informação da mesma maneira que elas repassam desinformação”, comentou a criadora do canal DePretas. “Seria necessário que todo mundo que recebeu a notícia falsa recebesse pelo menos a informação verdadeira. Porque, se a pessoa simplesmente apaga a postagem, quem compartilhou não vai ver a verdade.”