John Leitão: ‘A internet é um espaço para cada um transformar o mundo no que acha que deveria ser’

Comediante – que tem mais de 4,6 milhões de seguidores – revela como se tornou youtuber e dá detalhes sobre o processo de produção de seus vídeos

 

“Como ser feliz em 5 minutos”, “Superman oferecendo ajuda para a polícia”, “Pagando R$ 1.000,00 por uma garrafinha de água”. Com títulos chamativos e pegadinhas que surpreendem e emocionam desconhecidos, o paulistano John Leitão já conquistou mais de 4,6 milhões de seguidores no YouTube.

 

Mas o que está por trás de seus vídeos? Quem era John Leitão antes da fama na internet? O #TMJ investigou essas e outras questões em uma entrevista exclusiva com o comediante. No bate-papo realizado na ESPM, onde o publicitário se formou e esteve em junho para uma atividade com estudantes, John revelou detalhes sobre o processo de produção de seus vídeos e como monetiza seus conteúdos. Também falou sobre suas referências no humor, como lida com as críticas e incertezas profissionais. Spoiler: antes de fazer pegadinhas, John Leitão era Eduardo Martins e trabalhava em um ambiente bastante formal.

 

 

Quem é o John Leitão e quem é o Eduardo Martins? 

O Eduardo não existe muito. Eu me apresento como John nos lugares porque John e Leitão são apelidos de infância. John veio na adolescência porque as pessoas diziam ‘Joutro mundo’, porque eu era bem comediante na época, hoje também. E Leitão era um apelido de infância porque eu era gordinho e rosa. Na hora de criar o canal, eu juntei e virou John Leitão. Ninguém me chama de Eduardo, mas é um cara mais tímido, enquanto o John é uma pessoa que faz as palhaçadas. Talvez o John faça as palhaçadas para esconder o Eduardo que é tímido.

 

Quais suas referências no humor?

Mais ou menos uns 10 anos atrás eu comecei a entrar no universo do YouTube e descobri alguns canais nos Estados Unidos que faziam pegadinhas, como o do Greg Benson e o do Ed Bassmaster. O que sentia quando via esses canais é que fazer pegadinha era fácil, e antes era difícil porque as pegadinhas só existiam na televisão. Tinha uma produção, equipamentos, muitas pessoas. Na internet você pode fazer com uma pessoa filmando com uma câmera de mão e outra na frente com um microfone. Então minhas referências foram o Greg Benson e o Ed Bassmaster, que eu ficava madrugadas assistindo. O dia que assisti pela primeira vez eu falei: ‘Quero fazer isso’. Depois, comecei a fazer e fui o primeiro canal de pegadinha no Brasil a postar o conteúdo para o YouTube. Isso há 10 anos.

 

Como é a rotina de um youtuber e o que está por trás dos vídeos?

A equipe é pequena. É só um câmera que também edita os vídeos. Eu editava até o quinto ano de canal, hoje é o Sonic que filma e edita. A rotina é muito simples: fazemos reuniões, temos as ideias e tentamos fazer uma programação para facilitar a vida. Depois a gente vai filmar as pegadinhas, volta e edita e posta. Quando acaba, tudo começa de novo. É um círculo de criação e postagem de vídeos que é praticamente infinito.

 

Como você constrói as pautas?

Sentado, pensando e também se inspirando em alguns canais, que geralmente vem de fora, porque gosto de um humor mais non sense. Além das pegadinhas do bem, que fui o primeiro no Brasil a fazer.

 

Como surgiram as “pegadinhas do bem” e qual o seu objetivo com esse tipo de conteúdo?

Começou sem querer. Estávamos gravando um vídeo do personagem Gringo. Ele estava pedindo informações para as pessoas, mas a informação estava toda errada, era comédia pura. Aí tinha uma senhora vendendo rosas na frente do metrô Vila Madalena, a Dona Irene. O Sonic, que é meu câmera, olhou para aquela senhora e teve a ideia na hora: vai lá e compra todas as rosas dela para a gente ver a reação. Aí eu fui, conversei um pouco com ela, comprei as rosas e ela começou a chorar muito. Eu não esperava isso, não é o que eu queria, mas foi ótimo porque foi muito emocionante e ela ficou feliz. A partir daí a gente começou a olhar mais para as pessoas na rua e tentar pescar quem precisa de ajuda. Começamos a fazer até que virou uma rotina: ‘Vamos ajudar pessoas’.

 

Você recebe algumas críticas pelo tom assistencialista dessas pegadinhas. Como você lida com isso?

A única coisa que eu ouço de hater, que são poucos, deve ser 1% ou 0,5%, é que eu faço para aparecer. A pessoa que tem um canal no YouTube está postando para não aparecer? Qualquer pessoa que está na frente da câmera? Um jornalista, um jogador de futebol? Então você não pode fazer nada, porque todo mundo quer achar um espaço para ficar. Aí eu pergunto para essas pessoas: qual a solução? Não fazer mais?

 

Você diverte as pessoas e tem claramente o objetivo de levar uma mensagem positiva por meio da internet. Mas na rede também temos haters, fake news. O que é o ambiente digital para você? É um lugar mais positivo ou negativo?

Depende muito do algoritmo de cada pessoa e do momento que a gente vive na sociedade também. Acho que a internet está começando agora, considero recente isso das fake news, do mal sendo espalhado por aí. Só que acho que uma parte do meu trabalho é estar do outro lado, quero postar uma coisa que seja positiva. O que você posta na internet se espalha, quem tem um alcance como o meu se espalha mais ainda. Então eu não tenho que perder tempo com coisas negativas. Claro que dou minhas opiniões às vezes e acho isso importante. Mas a internet é um espaço para cada um transformar o mundo no que acha que deveria ser.

 

Como um youtuber ganha dinheiro? Qual a forma de monetização do seu canal?

São duas formas de remuneração: uma por meio da monetização, que é de acordo com a quantidade de views que você tem. E a outra é através de marcas que entram em contato para fazer parte do nosso trabalho, fazer parcerias.

 

O que te levou a estudar publicidade e qual era sua expectativa profissional antes de bombar no YouTube?

Antes de bombar eu estava trabalhando no Tribunal de Justiça de São Paulo. Nessa época comecei a ver aqueles canais que te falei no começo. Aí decidi chega: vou para uma área que é um pouco mais arriscada. Não é fácil você estar com 35 anos e começar a fazer vídeo para a internet. Mas arrisquei porque tive aquela motivação que os canais me deram. Segui meu coração. Eu estava estável, mas larguei tudo porque queria a emoção de surfar a onda do terremoto.

 

Antes de bombar no YouTube eu estava trabalhando no Tribunal de Justiça de São Paulo

 

Que mudança! Do Tribunal de Justiça para o YouTube…

Foi mesmo. Eu nunca segui um caminho profissional por tanto tempo. Só agora, depois do YouTube. Posso dizer que foi neste momento que me achei. Eu fiz muito teatro antes, propaganda de televisão, depois entrei no tribunal. Tentei conciliar as duas coisas, não dava. Foi quando falei: quero só fazer isso, focar e me jogar. Aí fiquei aqui até hoje, vai fazer 10 anos já.

 

O que você aprendeu na faculdade te ajuda de alguma forma no dia a dia?

Ajuda, claro. De todas as formas possíveis. Porque aqui, além de você trabalhar muito a criatividade, você entende muito como o mercado funciona. E qual a importância de um comunicador, de um publicitário? Porque existe uma importância, não é só um trabalho. Você tem uma importância para a sociedade. Traz uma responsabilidade também. Quando passa anos aqui [na faculdade] você incorpora essa responsabilidade, ou pelo menos deveria. Isso que levo mais, a responsabilidade que a voz tem.

 

Quais incertezas você tinha quando era estudante?

Eu tinha muitas incertezas. Tanto é que demorou um tempo para conseguir me achar. Quando eu estudava na ESPM, eu era da TV ESPM, e queria continuar isso. Mas não tinha internet ainda. O YouTube foi lançado depois que me formei. No meu caso, precisava acontecer a internet para eu existir desse jeito.

 

Precisava acontecer a internet para eu existir

 

Com base em sua experiência, que dica você daria para um jovem que está na faculdade e quer se tornar youtuber?

Siga seu coração. É o maior clichê do mundo, mas é o maior clichê porque é a maior mensagem do mundo mesmo. Siga seu coração e saiba o que você quer fazer. Você não precisa saber exatamente o quê, mas tem que saber que quer fazer, por exemplo, comédia, drama. Tem que saber o que quer fazer para poder começar. E não tenha medo. Tem que seguir o coração porque a vida passa muito rápido, e vai passar para todo mundo. Então por que ter medo? Você tem que ter medo de não ter feito.

 

Tem que seguir o coração porque a vida passa muito rápido

 

Seus vídeos são marcados pelas interações sociais. O que seu trabalho como youtuber te ensinou sobre as pessoas?

Eu posso dizer que sou um influenciador de mim mesmo. Eu me influenciei porque algumas coisas eu fazia para fazer o vídeo. Aí parei e falei: ‘Caramba, vou fazer isso na vida real também’. Eu sempre ajudei as pessoas, mas comecei a fazer as pegadinhas de verdade. Por exemplo, agora quando peço uma comida eu peço um x-burguer a mais para o entregador. Não filmo, apenas entrego para ele e ele fica feliz da mesma forma que ficam nos vídeos. Outra vez o cara pediu dinheiro para mim na rua e eu dei R$ 100 para ele e ele começou a chorar, disse que eu era um anjo. Eu falei: ‘Você é um anjo também, todos nós somos anjos’. Ele falou: ‘O mais importante que você está fazendo é me dar atenção, mais do que o dinheiro’. Então nesse lance de ser um influenciador de si mesmo eu não já nem sei quem está influenciando quem, se é o Eduardo o John ou o John o Eduardo.

 

Eu posso dizer que sou um influenciador de mim mesmo

 

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