Com direito a pipoca e medo da bateria descarregar, editor do #TMJ viveu essa experiência em um dive-in de São Paulo. Veja como foi essa aventura com ares dos anos 1960
Tem telona, escurinho e pipoca. Mas também tem ronco de motor, rádio FM, máscaras e muito álcool em gel. Ir a um cinema drive-in durante a pandemia é como embarcar no DeLorean do Dr. Brown e viajar no tempo até os anos 1960. Mas com a sensação de que alguém fez algo errado que mudou o curso da história. Medição de temperatura, funcionários de face shield, QR Code para pedir comida – e até mesmo para ir ao banheiro – indicam que tem algo estranho no ar.
Sob a orientação de mascarados de colete laranja com bastões luminosos (tipo sabres de luz de Star Wars), um a um os veículos vão pegando seus lugares, que são definidos por ordem de chegada. Ao menos assim você não corre o risco de derrubar refrigerante em um desconhecido ao cruzar uma fileira apertada até a poltrona G-10. Ponto positivo para o “novo normal”.
Em cartaz naquela sexta-feira estavam Projeto Gemini, Kill Bill: Vol. 2 e Guerra Mundial Z (não espere por lançamentos em meio a uma pandemia). Escolhi o clássico de Tarantino estrelado por Uma Thurman. Antes do filme começar, um saxofonista aquece os motores. Mas não consigo ouvir nada até descobrir que preciso sintonizar o rádio.
É claro que não podia faltar uma pipoquinha. Para fazer o pedido, basta abrir a câmera e acessar um QR Code que te leva a um cardápio variado – de pipoca a fondue – (mas que muitos podem considerar um pouco salgado). Pague com cartão de crédito e rapidinho alguém aparece na sua janela para a entrega.
“Tem álcool gel na embalagem” avisa o funcionário. Assim começa uma jornada. Minha noiva abre a pipoca, em seguida limpamos as mãos. Mas ela resolve colocar um pouco mais de sal. Abre mais um sachê, o despeja e antes que pense em começar a comer a alerto que vai ter que passar álcool outra vez. A bebida chega um pouco depois e mais uma vez precisamos higienizar as mãos depois de tocar nas embalagens. Mais do que nunca, é melhor prevenir do que remediar.
É hora do filme. Mas antes da pancadaria começar, um aviso: alguns veículos precisam ser ligados durante a exibição para que a bateria não descarregue. Meia hora depois, eu estava perdendo algumas cenas para pesquisar quanto tempo dura a bateria com o som ligado. Passei uns 15 minutos no Google, mas não encontrei nada confiável.
Tracei então uma estratégia: ligar o carro por 10 minutos após a primeira hora de filme. “Será que o barulho vai incomodar a galera?”, pensei ao dar a partida. Cada segundo com o veículo ligado pareceu uma eternidade. Mas logo percebi que eu não era o único preocupado. Frequentemente o silêncio era quebrado pelo barulho de outros veículos. Um SUV que estava uma fileira a frente deu partida SEIS VEZES durante as 2 horas de filme (sim, eu contei).
Resumo da experiência
Após quase quatro meses em isolamento – com saídas apenas para ir ao supermercado e a padaria – o cinema drive-in foi um respiro. Uma experiência bastante divertida, apesar das dificuldades na hora de se alimentar e o medo da bateria descarregar.
Ponto positivo para a tranquilidade para ver o filme: ninguém vai chutar sua cadeira e você não vai precisar pedir silêncio durante a sessão (os motores não incomodam tanto quanto “comentaristas de cinema”). Além disso, ao menos onde estacionei, deu para ter uma boa visão da tela.
Ponto negativo para o preço, que em São Paulo pode variar entre R$ 60 e R$ 100 por veículo (com limite de quatro ocupantes, sendo que os do fundo podem não ter uma boa visão).