Desinformação, transparência, negacionismo e incentivo à prevenção. Veja como os veículos de imprensa se saíram nestes e em outros quesitos em uma avaliação feita pela redação do #TMJ
A equipe de jornalistas do #TMJ avaliou a atuação da imprensa brasileira na cobertura da pandemia de covid-19. Confira a seguir o que identificamos como erros e acertos cometidos pelos veículos de imprensa durante este período:
Tratar o assunto, desde o início, com seriedade
Nada de gripezinha: o foco inicial foi bastante didático, buscando informações para o entendimento de o que era a doença, o que já se sabia sobre ela, como se proteger, uso de máscara, como lidar com o isolamento social, como usar álcool em gel e até mesmo como lavar as mãos. Um misto de utilidade pública e de cobertura minuto a minuto, quase como uma cobertura de guerra.
Dar espaço ao negacionismo
Em nome da pluralidade, alguns veículos de imprensa se tornaram palco para propagação de desinformação. Comentaristas e convidados divulgaram ao vivo números errados, negaram evidências científicas e utilizaram pesquisas antigas e já sem valor para defender tratamentos ineficazes e até mesmo prejudiciais. Demorou para a imprensa fechar a porteira para informações desencontradas ou não comprovadas.
Incentivar o uso de máscaras e o distanciamento social
Enquanto o Governo Federal e o Ministério da Saúde batiam cabeça, os veículos de imprensa assumiram o protagonismo no incentivo ao uso de máscaras e ao distanciamento social. Não apenas com palavras, mas também dando exemplo: deixando profissionais do grupo de risco trabalharem de casa, implementando protocolos de distanciamento nos estúdios e exigindo que os repórteres usassem máscaras nas ruas.
Publicar um anúncio em defesa do tratamento precoce
Uma pisada na bola que não teve origem nas redações, mas sim nas áreas comerciais. Em forma de anúncio pago, alguns dos maiores jornais impressos brasileiros divulgaram um manifesto em defesa do tratamento precoce – algo que já havia sido refutado pela comunidade científica e diariamente rebatido nas próprias páginas dos periódicos.
Combater a desinformação
Raramente a imprensa caiu nas armadilhas das fake news – ao contrário: os veículos, juntamente com os fact checkers, deram um show de agilidade, seriedade e competência. Sem essa atuação da imprensa, certamente as máquinas de espalhamento de fake news e discursos de ódio e negacionismo teriam causado ainda mais estragos…
Incluir o número de recuperados sem o contextualizar
A taxa de letalidade da covid-19 gira em torno de 2% a 4%. Ou seja, ao menos 96% dos que contraem a doença se recuperam. Logo, quanto mais contaminados, mais recuperados. Por isso, um grande número de recuperados não é necessariamente um sinal de sucesso no combate à pandemia, mas pode indicar sim um descontrole sobre a propagação do vírus. Alguns veículos divulgaram esses números sem os explicar corretamente ao público.
Não se intimidar pelos negacionistas
Desde o início da pandemia, houve perseguição a veículos de imprensa que enveredaram pelo caminho de alertar a sociedade da gravidade do que estaria por vir (e, depois, pelo que estávamos efetivamente vivendo). Os veículos de imprensa começaram a se tornar alvo preferencial dos que enxergavam conspirações por trás da doença. Mas permaneceram ao lado de quem buscava informação bem apurada e confiável. O resultado? O aumento no ibope dos telejornais das TVs abertas e fechadas e das rádios noticiosas, recordes de audiência em portais de informação como UOL e G1 – bem como maios número de acessos aos veículos mais tradicionais da imprensa na internet, como os jornais, e demais formas de acesso.
Divulgar algumas informações com pressa e sem tanta precisão
Idas e vindas, desmentidos e correções são normais – ainda mais com algo como o novo coronavírus. Mas a imprensa foi levada, até pela OMS e seus desmentidos, a uma enorme quantidade de correções, a publicar equívocos e a divulgar imprecisões.
Formar o consórcio de veículos de imprensa
Como resposta a uma tentativa do Governo Federal de restringir o acesso aos dados sobre a pandemia, os veículos de imprensa se uniram para dar transparência aos dados da covid-19 no Brasil. Assim surgiu o consórcio dos veículos de imprensa que coleta junto as secretarias de Saúde números de contaminações e mortes e os divulga ao público. O grupo é formado por G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S. Paulo e UOL.
Tom alarmista ou conformista
Demorou e foi difícil encontrar o tom correto para a cobertura: nem alarmista e nem conformista. Nesse processo, infelizmente, alimentou-se a dicotomia A x B, certo x errado.
Insistir no assunto, apesar do “a imprensa só fala disso”
Driblou-se a ideia/tendência de que o assunto poderia “perder força” na pauta diária (o que, de certo modo, é comum acontecer, quando um assunto perde “tração” e poder de atração junto ao público). Uma lição de atendimento e observância do interesse público.
Criar uma campanha pela vacinação
Na falta de uma campanha nacional de incentivo a vacinação, o consórcio dos veículos de imprensa também precisou assumir o protagonismo sobre esta questão. O grupo criou a “Vacina Sim”, campanha para conscientização da importância da vacina. O lançamento ocorreu durante o intervalo do Jornal Nacional.