Como o TikTok tem mudado a forma de produzir música

Artistas estão criando canções que podem ser cortadas em clipes menores para viralizar na plataforma

 

Por Lara Cardoso

 

Diferentemente do Instagram, Facebook e Twitter, o TikTok se baseia no compartilhamento de vídeos curtos – de mínimo 3 e máximo 60 segundos. Essa nova plataforma digital é muito conhecida pelos seus “challenges” de dança e “trends” viralizados pela internet. Algo que não podemos deixar de notar é o quanto o aplicativo está mudando as engrenagens da indústria musical e a forma como as pessoas descobrem música.

 

Os usuários podem fazer upload de áudio ou escolher o áudio original de outros usuários para criar um vídeo. Essas faixas sonoras podem incluir grandes sucessos, artistas independentes, bem como clipes populares da cultura pop. Essa característica, unida a assertividade do algoritmo do app, permite que criadores de qualquer tipo aumentem consideravelmente sua popularidade e obtenham muito sucesso, já que a mesma música é exposta repetidamente para um número absurdo de pessoas quando viraliza.

 

O curioso é que o aplicativo não está apenas mudando a forma como as pessoas consomem música, mas também como as pessoas estão produzindo música. Os artistas agora estão criando canções que podem ser cortadas em clipes menores para viralizar online. De acordo com a BillBoard, a duração média das músicas diminuiu em 20 segundos de 2013 a 2018 e continua caindo.

 

Um exemplo perfeito disso é Old Town Road, que tem apenas 1:53 de duração e morou no topo das paradas em 2019. Alguns criadores estão focados em fazer batidas que podem ser tocadas em looping ou letras repetitivas na esperança de transformar suas canções em tendências e chamar atenção, especialmente com recursos como o destaque do TikTok, que são projetados para descobrir artistas independentes e não assinados. O efeito que isso tem causado na indústria musical pode ser surpreendentemente comparado ao conceito da “Miojização da música”, trazido originalmente pelo canal Antídoto, no YouTube.

 

Essa teoria surgiu a partir da observação de características de muitas músicas e como essas se assemelham ao macarrão instantâneo que muita gente ama ou odeia: O miojo fica pronto em três minutos e tem uma variedade de sabores, mas que pouco se diferenciam entre si, já que a estrutura é sempre a mesma. Como é feito para agradar muitas pessoas, não possui nenhuma característica muito marcante, além de ser feito em larga escala e poder ser encontrado em qualquer lugar. Independente da marca, esse produto não exige muito do consumidor, pois é barato e fácil de fazer. Mesmo assim exerce sua função, mata a fome e satisfaz (mesmo que não seja muito nutritivo).

 

 

Não há nada de errado com a música miojo, ela tem seu valor, sua função e seu momento. E seria injusto dizer que o desejo, as vezes necessidade, dos artistas de produzir conteúdo que se encaixe em um determinado formato vem da atualidade: Bohemian Rhapsody, o clássico hino do rock, quase não foi lançada por precisar caber nos três minutos limite das rádios. Não é de hoje que, na busca por conseguir reconhecimento e atingir o sucesso, artistas se sujeitam a caber entre as bordas de alguma plataforma tal como o TikTok.

 

Ainda assim, o miojo não é um alimento completo. Se você tiver uma alimentação saudável não tem problema consumir de vez em quando. Mas, se toda sua alimentação se basear em macarrão instantâneo, assim como se tudo que você ouvir for um determinado e estreito tipo de música, sua sensibilidade musical pode ser comprometida.

 

Ouvir música abrange um mundo de possibilidades, abre portas para um universo de diferentes culturas, ideias, sensações, lugares e estéticas. Muitas canções são simples e nos encantam de primeira, outras demoram um pouco mais para desvendar, mas no fim valem a pena. Há diversos gêneros com diferentes propósitos e temáticas. A indústria musical sempre esteve em constante metamorfose, desde padrões de rádios a formatos de aplicativos. Cabe a nós não nos restringir a molde algum, para só assim tornar positivo o impacto que essas mudanças terão no futuro.

 

Conteúdo originalmente publicado no Newronio, blog escrito pelos alunos do Arenas ESPM, agência experimental do curso de Publicidade e Propaganda da ESPM.

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