Jornalismo de dados: o que é e como se faz

Ricardo Fotios, professor das disciplinas Jornalismo de Dados e Conteúdo Online na ESPM, explica porque trabalhar com dados é importante para o bom jornalismo

 

“Há uma diferença entre a reportagem ‘com’ dados e ‘de’ dados. Texto com dados cita números, mas quando usa os números de maneira inteligente, o jornalista amplia a informação”, diz Ricardo Fotios, professor da graduação em Jornalismo da ESPM, dando o seguinte exemplo: “constata-se que a pandemia vai mexer com o trabalho de forma inédita e isso está sendo medido pelo IBGE a partir de pesquisas em domicílio. O leitor vai receber como informação números referentes às taxas de desemprego, emprego e vagas. O jornalista tradicional usa essas informações e faz a reportagem, o jornalista de dados entra no banco de dados do PNAD/IBGE e formula hipóteses do tipo: em todas as regiões teve esse aumento de desemprego? Em quais teve mais ou menos desemprego? O que aconteceu na economia de determinada cidade para haver perda de emprego?”.

 

Conhecimentos necessários para fazer jornalismo de dados

O profissional tem que ter capacidade de fazer conta baseada no raciocínio lógico e testar hipóteses num programa simples de computador como o Excel, por exemplo. Com um computador o jornalista faz planilhas, contas e enxerga números a partir disso. É diferente de quando o jornalismo tinha um quê do romancismo da reportagem investigativa. Com a popularização do computador pessoal a investigação originou a reportagem amparada por esse equipamento. Segundo Fotios, quando o jornalista dependia apenas das fontes, era um jornalismo declaratório, que ficava um pouco vendido numa história porque a checagem não existia.

 

Importância da Lei de Acesso à Informação para o jornalismo

A promulgação da Lei de Acesso à Informação, em 2012, jogou no colo de todos os interessados um universo de dados para serem esmiuçados dentro da legalidade. “A aprovação Lei de Acesso a Informação é um divisor dá águas, porque abriu os cofres e os armários do poder público obrigando prefeituras, governos e autarquias a digitalizarem as informações”, diz Fotios. Apesar dessa facilidade, não bastam computador e dados. É necessário ter uma visão mais pragmática, questionar, criar os dados e cruzar informações para chegar num bom resultado. Em outras palavras, é não se contentar com os as cinco primeiras páginas de pesquisa do Google.

 

Jornalismo de Dados na pandemia

Fotios cita a cobertura da Covid-19 como um exemplo de jornalismo de dados brilhante pela capacidade analítica com que a imprensa brasileira peitou o governo, que não quis divulgar os dados sobre a doença. Isso tanto é verdade que em junho de 2020 algumas das principais empresas jornalísticas do país se uniram para criar um consórcio e divulgar informações sobre o coronavírus, baseado em dados oficiais dos governos estaduais.

 

Mais dados e menos opinião

A demanda do público por informação mais quantitativa e de credibilidade também contribui para a ascensão dessa metodologia no jornalismo. Isso porque, de acordo com Fotios, as pessoas não estão tão interessadas na opinião do jornalista e sim na notícia. Para opinar, existem os articulistas, mas para informar bem o profissional tem de trabalhar com dado preciso. “Há muitos profissionais que são pedreiros de letrinhas, porque [lhes] falta raciocínio lógico a ponto de puxar o freio de mão [do desenrolar da reportagem]. Tem que ter organização, saber escrever, saber gramática e ter zelo. Não adianta publicar uma investigação incrível com texto ruim. Nesse ponto, a ausência de gosto pelos processos básicos prejudica.”

 

Como aprender jornalismo de dados

É possível se aprofundar com cursos básicos de programação online para leigos ou seguir as indicações de Fotios: Escola de Dados e Abraji.

 

Exemplos de reportagens:

A pedido do #TMJ Ricardo Fotios cita reportagens que ele considera exemplares no jornalismo de dados:

 

Os Homens de Bens da Alerj

Música muito popular brasileira

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