Carolina Bustos, coordenadora do curso de Design de Moda da ESPM em Porto Alegre, avalia as oportunidades e desafios do mercado da moda para designers
Exercitar uma visão ampla e multidisciplinar, aliada a capacidades técnicas que levem à inovação com visão estratégica, para aprofundar os códigos sociais e de vestir. É dessa forma que Carolina Bustos, coordenadora do curso de Design de Moda da ESPM em Porto Alegre, explica o processo e a função da formação profissional dos egressos do curso que escolhem Moda como linha de formação.
E ela sabe do que está falando. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela ULBRA e em Interior Design pela The Art Institute Of Dallas, é Mestre em Engenharia de Produção (com ênfase em Ergonomia) – UFRGS e Doutora em Design pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E está à frente do curso de Design da ESPM-Sul desde 2008 – além de ter sido vice-presidente da ApDesign na gestão 2007 a 2010.
Nessa entrevista, ela explica a importância da formação acadêmica para profissionais que desejam entrar na indústria criativa – e quais as habilidades desenvolvidas pelo curso que ela coordena, que oferece tanto a linha de formação em Moda quanto em Comunicação Visual.
Qual a importância da formação de design no universo da moda?
Diante de um mundo cada vez mais complexo que vivemos, cabe ao profissional do Design fazer sentido das coisas, dos sistemas e dos meios, na busca de um aprimoramento e ao mesmo tempo uma simplificação do sistema. Digamos que tentamos humildemente ajudar a retirar as lentes e enquadramentos que nós mesmos nos colocamos ao longo da nossa jornada – e dos nossos paradigmas. Tarefa difícil, mas acalentadora, o bem-estar e a alegria dos usuários com equilíbrio no meio em o qual estamos inseridos é o que se busca.
O Design vai além de qualquer universo pontual, tem uma formação extremamente abrangente e profunda e, quando pensamos na moda dentro do universo de Design, percebemos este escopo e oportunidades crescentes. Hoje o profissional de Design está sendo cada vez mais reconhecido no mercado de trabalho, o que é enfatizado as grandes empresas de comunicação e moda, possibilitando assim grandes chances de crescimento profissional.
Quais as aptidões esperadas para quem pensa em cursar design com formação em moda?
Precisa-se de profissionais curiosos com visão crítica e reflexiva apurada, com capacidade de fazer uma leitura do mundo sob a ótica do design, da sociologia, antropologia… Que tenham a habilidade de aprofundamento dos códigos de vestir, códigos sociais, o primeiro parâmetro para poder entender uma sociedade. Os sinais vitais da sociedade.
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Designers realmente capazes de atuar com competência, compreendendo sua inserção no universo das indústrias criativas, trabalhando de modo propositivo a inovação – por capacidades técnicas e habilidades relacionais, que se traduzem numa visão ampla e multidisciplinar. Que consigam alterar os sistemas conforme as necessidades atuais e futuras de uma população. Que tenham uma visão social e global deste sistema com capacidade de integrar com os diversos universos do saber disponíveis no meio acadêmico e mercadológico.
Necessita, antes de tudo, promover as bases para que os acadêmicos desenvolvam a consciência crítica e o compromisso social, de maneira a projetar, com responsabilidade, nas diferentes realidades culturais e socioeconômicas com que deverá se deparar ao longo de sua trajetória profissional. Ter consciência que qualquer produto que desenvolva pode alterar um sistema.
À parte as disciplinas técnicas e de formação específicas, por que é importante ter uma formação de marketing, planejamento e negócios?
É de suma importância formar designers com visão estratégica, questionamento crítico frente à sociedade global e aos desafios locais e nacionais, compreendendo as dimensões criativas, projetuais, socioeconômicas e culturais da profissão.
O fato de adquirir conhecimentos mercadológicos que possam auxiliar a tomada de decisões em projetos de diferentes áreas do design, procurando ainda relacionar a aspectos de branding, orientação empreendedora, sustentabilidade. Bem como ter um pensamento quantitativo e com habilidades em Finanças complementam e aprofundam esta competência, sendo estas fundamentais a serem desenvolvidas para atuar e navegar em um mercado altamente competitivo e em constante mudança.
O que esse ramo da indústria criativa mais espera de jovens que saem do seu curso – e se a indústria tem se mostrado um mercado de trabalho receptivo para novos profissionais?
A procura por profissionais qualificados é uma crescente, tendo em vista a demanda por projetos de serviços, UX, visuais, moda, de desenvolvimento de vestuário, acessórios, bem como calçados e artefatos especializados, que proporcionem suporte às empresas para potencializar a competitividade. Bem como o crescente mercado brasileiro de entretenimento, através do campo cinematográfico tanto para comerciais publicitários que envolvam criação em 3D, cenografia virtual e criação de figurino.
Há também, no processo de pré-produção, produção e pós-produção em cinema, a procura constante por designers. Na área gráfica, ainda, esse suporte atende demandas de indústrias: injetáveis, moveleiros, vinícolas e alimentícia. Esperam sem dúvida, um profissional completo no que tange suas competências e habilidades não só específicas da área criativa e mercadológicas, mas também na sua inteligência emocional, sua empatia pela sociedade que estamos inseridos.