Evento promovido pela ESPM, em parceria com a Columbia Journalism School, contou com a participação de Kyle Pope, Ellen Nogueira, Débora Alfano e PVC
Aconteceu na terça-feira (6) o 4° Seminário Internacional de Jornalismo, promovido pela ESPM, em parceria com a Columbia Journalism School, via Zoom. Apresentado pela professora de jornalismo da ESPM Cláudia Bredarioli, o evento contou com Kyle Pope, editor da Columbia Journalism Review, Ellen Nogueira, diretora de jornalismo da CNN Brasil, Débora Alfano, âncora da Band News São Paulo, Paulo Vinícius Coelho jornalista e comentarista do SporTV e da CBN, além de renomados jornalistas e professores que compuseram os painéis, atingindo uma audiência de 638 espectadores ao vivo. O presidente da ESPM, Dalton Pastore, iniciou o evento falando sobre o formato adotado para o seminário e os desafios do futuro para o mercado de trabalho e também para a educação.
Na mesa de abertura, Kyle Pope discorreu sobre a situação política dos Estados Unidos, a sua economia e como esses fatores impactam o jornalismo. Com a temática “Jornalismo Pós-pandemia: Aprendizados, legado e perspectivas”, Pope falou sobre a prática jornalística local nos EUA, assim como as adaptações dos veículos de comunicação com a pandemia e para o futuro após ela. “O jornalismo local já estava em crise antes da pandemia, mas agora ele está em queda livre”, falou o editor.
O norte-americano também comentou sobre a questão racial no jornalismo, falando que apenas 14% dos funcionários de redação são não-brancos, que o impresso Los Angeles Times reconheceu ao longo do tempo os seus erros em relação ao preconceito e discriminação racial na empresa e que a Covid-19, “afeta desproporcionalmente as comunidades mais desvantajosas racialmente e economicamente”.
Quando perguntado pelo jornalista e professor da ESPM-SP Ricardo Gandour sobre a falta de contato entre os jornalistas e as fontes, por causa da pandemia, Kyle disse que há uma tendência dos jornais em estarem fechando seus escritórios por causa do custo, dessa forma fazendo com que os editores devam ser essenciais para o gerenciamento dos jornalistas e que estes devam trabalhar mais forte para manter um senso de camaradagem entre os funcionários.
Prática jornalística em transformação
Ellen Nogueira deu continuidade falando sobre a estreia da CNN Brasil, que aconteceu em meio à pandemia, e as mudanças que isso exigiu. A jornalista contou que, durante meses, tinha um planejamento de estreia com reportagens e entrevistas especiais que foi todo mudado por conta da cobertura da pandemia. A diretora acredita que os jornalistas da CNN, por conta desse contexto, tiveram dimensão dos acontecimentos junto com o público, no ar, ao mesmo tempo que estavam “na linha de frente”. Ela adiciona que a TV se reinventou com a pandemia, ganhando maior imediatismo em relação às fontes, assim como a integração entre os veículos.
Para Débora Alfano, o jornalismo no rádio também sofreu modificações. Apresentar um programa de rádio direto de casa seria inusitado, diz a jornalista, mas hoje se tornou comum, principalmente durante a pandemia, que promoveu a ascensão do home office. Ela contou sobre as mudanças no processo produtivo dos programas da Band News São Paulo, destacando a mudança de olhar jornalístico, que passou a ser mais voltado ainda para a realidade.
A âncora ainda citou a importância da proximidade dos ouvintes que a rádio possui neste momento de pandemia que, no caso da Band News, criou uma iniciativa de divulgação de diversos serviços, com a finalidade de ajudar as pessoas, além de divulgar bastidores da pandemia, como relatos dos ouvintes. Débora destacou também as perspectivas de aprendizado pós-pandemia: “Essa flexibilidade que a gente passou a ter, adaptação às novas tecnologias e integração entre as várias formas de comunicação.”
Em entrevista em audiovisual aos alunos, depois do seminário, Débora Alfano falou sobre as mudanças no jornalismo da Band News durante a pandemia:
Ainda nesta sessão, Leão Serva, diretor da TV Cultura e professor da ESPM-SP, comentou sobre a sua experiência no jornalismo durante a pandemia e as influências da Covid-19 no mercado jornalístico. “Eu mal fiquei em home office. Várias providências foram tomadas, mas a gente manteve o jornalismo da TV Cultura trabalhando full time e conseguimos, também favorável ao acaso, até hoje não tivemos nenhum caso de Covid entre nossos jornalistas”. E continuou: “Destaco o fato de que a grande crise do jornalismo já vinha em curso nos anos anteriores e a pandemia apenas acentuou, como se o jornalismo, como empresa, tivesse comorbidades que se revelaram mais fortes com a pandemia”, disse o jornalista.
Leão ressaltou que vivemos em uma “crise sistêmico-estrutural” que já vinha avançada e foi agravada pela diminuição da compra e demanda de produtos físicos, assim como do poder aquisitivo dos espectadores. Entretanto, afirmou que a pandemia “aumentou exponencialmente a audiência da indústria do jornalismo, particularmente do bom jornalismo, de checar e produzir a boa informação”. O diretor ainda discutiu sobre características de um novo jornalismo, com empreendimentos menores (redução de espaços de escritórios que são caros para manter) e combatente às fake news, visando sempre buscar a verdade. Com isso, criticou algumas das últimas declarações dos presidentes Donald Trump (EUA) e Jair Bolsonaro. “Um louco não tem o direito de voz como se fosse são, no panteão das opiniões públicas. Eu acho que as loucuras do Trump não podem ser noticiadas como se fossem verdade. Quando Jair Bolsonaro diz na ONU que índios botam fogo na Amazônia, nós não devemos tratar isso como se fosse uma informação verdadeira, tem que ser sempre noticiado como uma mentira”, completou.
Depois do seminário, em entrevista em audiovisual aos alunos, Leão Serva comparou as mudanças que ocorreram na redação da TV Cultura e nas salas de aulas de jornalismo por causa da pandemia:
Finalizando a mesa, Paulo Vinícius Coelho (PVC), jornalista e comentarista do SporTV e da CBN, falou sobre os desafios que os jornalistas esportivos enfrentam no período da pandemia. Iniciou contando sobre o começo da pandemia e como surgiu a ideia de dar continuidade aos programas de televisão. A opção foi seguir com os programas por chamadas on-line.
PVC também falou sobre a diferença fundamental entre análise e opinião: “Eu (jornalista) preciso ter informação precisa e apurada para fazer uma análise e dar a informação de algo que eu tenho certeza, caso contrário, eu vou correr o risco de fazer jornalismo panfletário, de expor a opinião pessoal, que não é papel do jornalista. O papel do jornalista é trazer a informação, embasar essa informação, no caso do comentarista, fazer a análise para você em casa entender o que está acontecendo. Isso vale para economia, política e tem que valer para o esporte”.
Confira em vídeo o comentário de PVC sobre as diferenças entre opinião e análise em jornalismo, feito durante o seminário:
Outro ponto apresentado pelo jornalista foi a facilidade de fazer entrevistas – por mais que percam a qualidade no áudio e no vídeo, comparado à televisão – com pessoas ao redor do mundo. PVC citou uma entrevista com Fabio Cannavaro (capitão e campeão do mundo em 2006 com a Itália, hoje técnico na China), uma situação inusitada e que, sem a presença dos meios digitais e das inovações nos programas com as chamadas, criou uma situação excepcional, viabilizando as entrevistas mesmo sem a presença física.
PVC contou, também, sobre uma conversa que teve com o colega André Plihal (jornalista dos canais ESPN) logo no início da quarentena. Preocupados com a paralisação dos eventos esportivos e como iriam produzir conteúdo de qualidade, incentivou a apostarem no uso da tecnologia para realizar os programas, on-line, com os jornalistas em suas casas. Paulo Vinicius Coelho concluiu falando que a grande lição de tudo isso é não desistir. “Se ficar em casa, não vai acontecer nada. A gente aprende que é possível colocar um conteúdo extraordinário no ar, mesmo não tendo as melhores imagens”.
Créditos da cobertura:
Portal de Jornalismo: Rafael Saldanha, Isabella Martins, Laura Cavalari, Enrico Sordilli Fotojornalismo: Alice Labate e Isabella Nobre Tiezzi (1º semestre), Ana Vitória Leal, Vitor Altino e Wenderson Matheus (2º semestre), Enzo Almeida (3º semestre), Luana Fernandez E. Cataldi, Maria Luiza Baccarin, Malu Ogata (4º semestre), Marcelo Santos (5º semestre). Audiovisual: Duda Cambraia, Isabella Pascucci e Valentina Alayon. Jornalismo Esportivo: Tatiana Carvalho, Paulo Belleze, Isabella Pascucci, Valentina Alayon, Rafael Falino, Leonardo Selvaggio, Arthur Pomares, André Alonso, Marcelo Baroni, Gustavo Rustom, Enrico Sanchez, Rodrigo Salzano (2º semestre), Matheus Segato (4º semestre). Edição de imagens e vinheta de vídeos: Jenniffer Bertarelli (Núcleo de Imagem e Som) Orientação: professores Francine Altheman, Heidy Vargas, Patricia Rangel, Erivam de Oliveira e Paulo Ranieri Supervisão: professor Antonio Rocha Filho