Cuidado com o poder das palavras

Na hora de comunicar uma ideia, não se esqueça: o receptor é quem dá significado ao que você quer dizer – a partir de seu próprio universo de entendimento

 

Quando dizemos ou escrevemos algo que não é entendido pelas pessoas, não raro a reação é simplesmente: “que gente mais sem noção: como não entenderam o que eu disse?”. Melhor rever seus conceitos… Explico: durante muito tempo, no entendimento de que a comunicação era feita de “emissor-mensagem-receptor”, numa ordem de mão única, o problema era sempre de quem “não entendeu”. Porém, isso foi subvertido em um mundo em que essa “ordem” se fragmentou, onde todo mundo é emissor e receptor, a depender do momento em que vê ou lê algo e resolve compartilhar (ainda mais com o poder de “editar” e tirar de contexto o que foi dito).

Ou seja: quer ser realmente entendido? Basta saber para quem está comunicando e produzir mensagens que dialoguem com o universo referencial de quem pretende atingir.

Por ser por definição e objetivo ferramenta de grande exposição, de comunicação de massa (além de ser produzida e divulgada em grande quantidade e velocidade), a publicidade costuma colecionar “causos” em que as palavras, por mais simples que sejam, deixam abertas outras interpretações (muitas vezes pouco lisonjeiras) da mensagem pretendida.

Quer um exemplo que forçou uma mudança radical na forma de anunciar? O bom e velho “grátis”. Imagine, por exemplo, você chegar no supermercado e encontrar, acoplado a um pote de achocolatado, um brinde que é apontado na embalagem como “GRÁTIS!”. Ninguém pensaria que você pode levar o brinde sem precisar pagar nada – deixando o pote de achocolatado na prateleira.

A Justiça, contudo, lastreada no Código de Defesa do Consumidor, entendeu que nada poderia impedir o consumidor de ter esse entendimento – uma vez que compra casada é algo proibido pela lei. E um monte de gente conseguiu levar para casa, e sem pagar, apenas o “GRÁTIS”…

Como se resolver? Não usar o “GRÁTIS!” – e trocá-lo por “brinde” (o que já deixa explícito que se você levar o pote de achocolatado levará junto o tal brinde).

Outro “causo”, esse mais memorável, envolveu um slogan utilizado por pouco mais de uma semana – mas que até hoje é lembrado como se tivesse ficado no ar por décadas: o “Quer pagar quanto?”, de uma campanha da Casas Bahia.

A quantidade de problemas foi enorme: pelo Código de Defesa do Consumidor, se o vendedor pergunta ao consumidor o quanto ele quer pagar ele terá o direito de colocar o preço naquilo que lhe é oferecido. Imagine a avalanche de consumidores se dirigindo às lojas da rede varejista e, em troca de um televisor de muitas polegadas, dizer que queria pagar apenas R$ 1. E isso chegou a acontecer!

Como se não bastasse esse perrengue, vendedoras das lojas entraram na Justiça por ter de usar o broche que, ostentando a pergunta “Quer pagar quanto?”, tiveram de usar enquanto a campanha esteve no ar. Diante de cantadas e outras grosserias, houve até mesmo indenizações pela exposição ao assédio moral que sofreram…

Resumindo: é mais ou menos como quando você manda um e-mail ou uma mensagem escrita via WhatsApp e a outra pessoa fazer uma leitura completamente diferente da entonação e do objetivo da mensagem. Quem nunca?

Por isso, se quer comunicar algo a alguém, pense em como esse alguém vai entender sua mensagem (lembrando que ela vai usar as suas próprias referências). Não garante 100% de sossego, mas pode diminuir as chances de ter de explicar que focinho de porco não é tomada…  

 

Quer ver mais conteúdos do #tmj?

Preencha o formulário abaixo e inscreva-se gratuitamente em nossa newsletter quinzenal!

Você vai curtir

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on tumblr

INSCREVA-SE EM NOSSA NEWSLETTER