O mundo das redes pode nos dar a falsa sensação de que sabemos de tudo, estamos sempre certos e de que todo mundo concorda conosco. Em nome da sua sanidade: rebele-se!
Cansei de ler trocas de mensagens em torno de uma discussão banal em que duas pessoas apenas não concordam 100% com tudo que terminavam com um argumento final assustador: “todo mundo concorda comigo. Não preciso de você vindo na minha página para discordar. Tchau!” – tudo seguido de um “unfriend” ou “unfollow”.
Claro que nos livrarmos de “resistências” ou de conflitos pode ser reconfortante e criar um “safe place”. Nem todas as batalhas valem a pena. Porém, quando isso se torna modus operandi… Sem qualquer resistência, vamos nos afundando no autorreferenciamento que, cada vez mais, nos distancia da diversidade. E nossas ideias, assim, vão deixando de oxigenar, de ser desafiadas. Em pouco tempo, nossos argumentos, mesmo corretos e justos, ganham a consistência meio gelatinosa das coisas que perdem consistência.
Aliás, a falta de disposição ao contraditório é o que está na base de coisas como a polarização e as fake News. Explico: encorajados pelas nossas bolhas, sequer consideramos que possa haver alguma verdade fora de nós mesmos e de nossas convicções. E quem não pensa como eu está contra mim. E quem está a meu favor não mente. Viu?
Claro que devemos saber bem a que tipo de discordância e de contraditório devemos nos expor. Não adianta gastar tempo e energia com o que eu chamo de “lixo das redes”. Mas fico o tempo todo à procura de gente que, ao desafiar meus saberes e minhas convicções com inteligência, fatos e bons argumentos, me deixa na melhor forma mental possível. Sim, é um exercício.
É assim que entabulo diálogos enriquecedores que não servem nem para eu ser “dobrado” e nem para convencer o outro a abandonar seus pontos de vista. Mas essa troca, em 99,99% das vezes, gera em mim novas ideias, novos questionamentos – e, com sorte, mudanças saudáveis com o acréscimo de informações, saberes e, claro, novas ideias e (por que não?) opiniões.
Sei que nem todo mundo concorda comigo – mas ficarei feliz se, mesmo discordando de mim, eu tenha podido oferecer um novo olhar a quem chegou até esta linha na leitura…