Bullying: o mal que deve ser combatido

O valentão geralmente é uma pessoa que tem lá seus problemas. Precisa se afirmar. Quer fazer valer o que considera sua força e seu poder junto a um grupo

 

Constato duas coisas bem óbvias.

 

A primeira delas é que nunca tivemos tanta informação sobre o assunto, que a palavra “bullying” faz parte do vocabulário geral, usada muitas vezes com pitadas de ironia, e que nunca tivemos também tantos recursos para evitar, esclarecer e combater o bullying. Viva!

 

A segunda é que tenho dificuldades em falar sobre o assunto porque ele é muito importante em minha vida. Vivi logo no começo de minha escolarização uma série de situações que hoje poderiam ser enquadradas no conceito de bullying e que me marcaram profundamente.

 

Tenho uma memória de quando estava no pré-primário, de um grupo de estudantes tirando uma da minha cara, enquanto um estava sentado sobre mim, que estava jogado no parquinho do fundo da escola.

 

Tenho a sensação de que aquilo acontecia muitas vezes, que me intimidava, simplesmente porque eu era um menino mais quieto, talvez menor, mais frágil, delicado, que gostava de ficar na minha.

 

Uma coisa pesada. Sufocante. Que literalmente me jogava para baixo. Que me fazia muito pequeno. Que me ridicularizava não só para aquele grupo, mas para todas as crianças no recreio. Também sinto que eu devia ficar quieto, na minha. É, em palavras que eu não tinha na época, eu me sentia humilhado. Com medo. E que esse era o meu papel e pronto.

 

Também lembro, alguns anos depois, de que me ridicularizavam muito na escola (outra escola) porque eu era o menino “gordinho”. Na peça de teatro, eu era o “Bolinha”. Na educação física, era zoado porque não conseguia fazer os 100 abdominais que o professor mandava ou podia ser o alvo da bola da queimada, como era um colega meu que era ainda mais zoado. Os meninos e as meninas não me consideravam um, digamos, “igual”. Que meu cabelo crespo não era bem aceito. Enfim. Eu me sentia bem inferiorizado. Não gostava muito de mim e tinha muitos desses julgamentos internalizados.

 

Me esforcei bastante para escapar dessas coisas. Mudei de escolas. Fiz regime. Soltei os cachos. Mudei o tipo. Reclamei. Enfim… Muita coisa. Dei o meu jeito, adequado aos meus tempos, pois falo aqui de coisas que aconteceram, algumas delas, há mais de 50 anos.

 

E não é que algumas dessas sensações ainda estão comigo?

 

Tudo bem, algumas dessas situações, entre outras, alimentaram em mim algum senso de justiça, de combate, de apoio, que acabaram certamente direcionando muitas de minhas atividades profissionais vida afora. Por exemplo, virei professor. Darma? Carma?

 

Conto isso por um desejo simples de compartilhar e de dizer que, junto com as informações sobre o bullying, hoje tão esmiuçadas e base de tanto esclarecimento e de ações importantes, de leis e punições, considero muito importante não perder de vista a experiência, a vivência, o afeto, a escuta e a conversa. Como modos de conscientizar, prevenir e relatar as coisas com emoção.

 

Gosto de etimologia. Bullying, palavra inglesa, substantivo que vem do verbo “bully”, quer dizer machucar, ameaçar, forçar alguém a fazer aquilo que não quer. Em português, o verbo “bulir”, que tem uma riqueza mais ampla do que nos interessa agora, também alude a mexer com alguém, implicar com, caçoar de… essas coisas.

 

Então, na definição clássica, bullying é esse mexer com alguém. Cometer agressões físicas, verbais, psicológicas, sexuais… intencionais. Repetitivas. Que causam medo, intimidam, enquadram e estigmatizam.

 

O valentão, o bully, geralmente é uma pessoa que tem lá seus problemas. Precisa se afirmar. Quer fazer valer o que considera sua força e seu poder junto a um grupo. Tem suas inseguranças, ansiedades e angústias. Que ele – ou eles – trata(m) de descarregar em sua(s) vítima(s).

 

Quantas figuras hoje a gente vê em livros, filmes e séries que descrevem, de maneira fiel e/ou caricata, essas tristes figuras… Os valentões de Harry Potter, por exemplo.

 

Tudo bem que algumas pessoas que sofrem bullying têm meio que uma síndrome do patinho feio. Que, de algum modo, sem que a gente se dê conta, pode acabar reiterando os valores que podem causar o bullying! E não dá para justificar dizendo “Ah, a vida é assim!”, “O mercado isso ou aquilo!” ou “Você tem de ser resiliente”. Essas justificativas tolas.

 

A vida vai temperando a gente? Vai. A gente cria casca? Cria. Jogar com as mazelas, ignorâncias, estupidezes próprias e dos outros faz parte da jornada do herói? Óbvio.

 

Mas o fato é que o bullying cria mesmo algozes e vítimas. Para os primeiros, cuidados, regras, leis e punições. Mas, sobretudo, precisamos falar sobre as vítimas.

 

Gente que sofre muito, algumas por muitos anos, de maneira mais ou menos velada. Dá-lhe tristeza, autoestima lá embaixo, falta de motivação. As coisas na escola tendem a ir mal, a pessoa pode ter vários tipos de perturbação, que podem levar até a trágicas consequências. Mesmo porque, muitas vezes, essas situações ficam muito tempo abaixo dos radares.

 

E aí? Quem nunca?

 

Então, tudo bem, podemos cuidar dos radares! Criar modos de esclarecer, rodas de conversa, preparar professores e equipes de apoio para detectar sinais, ter escuta ativa para as queixas e criar protocolos de apoio e punições. Tudo isso amparado por lei, pois, afinal, hoje em dia bullying é crime.

 

Aliás, temos notícias recentes de muitas escolas que têm tomado posições muito firmes e efetivas quanto a isso.

 

Mas também não é fácil dar conta do cardápio de possibilidades de bullying. Porradas? Xingamentos? Fofocas? Exclusões? Comentários ou chantagens na internet? O bullying pode ser físico, verbal, moral, psicológico, social, cyber… tudo ao mesmo tempo agora.

 

Focado em todo tipo de diferença: de classe, raça, religião, gênero, orientação sexual, aparência, comportamento, linguagem corporal, personalidade, tamanho, habilidade…

 

Ufa!

 

Inveja. Ressentimento. Arrogância. Tristeza. Raiva. Vingança. Quanto gosto amargo esse negócio traz.

 

É importante estar atento aos sinais.

 

E acreditar em transformação!

 

Uma escola como a ESPM, por exemplo, atua de diversos modos nessa questão. Amparada pela lei e pelos seus valores, expostos em todos os documentos acadêmicos, a ESPM não aceita o bullying. Promove uma cultura de boa convivência e bem-estar, em inúmeros contextos – nas salas de aula, nos núcleos e entidades, nos eventos -. A ESPM também treina suas equipes para a compreensão, detecção e encaminhamento de questões desse tipo.

 

A ESPM tem vários canais de diálogo: representantes de sala, professores, tutores, coordenadores, Serviço de Atendimento ao Estudante e Ouvidoria. Canais amplamente divulgados e que, evidentemente, também são veículos para denúncias.

 

Se uma situação dessa natureza acontece, são formados comitês para investigar, esclarecer, encaminhar e punir. Dando especial atenção à vítima, que sempre terá escuta ativa e o apoio especial do PAPO, o Programa de Acompanhamento Psicológico e Orientação da ESPM.

 

Assim, se qualquer estudante acha, tem a sensação, pensa, supõe que está passando por uma situação de bullying… É muito importante que saiba que tem muitos apoios, canais de escuta e que toda palavra será ouvida, elaborada, encaminhada e tratada com todo interesse e cuidado necessário.

 

Pode ser fazendo um requerimento digital. Pode ser indo diretamente ao Serviço de Atendimento ao Estudante. Pode ser procurando, no seu entorno, essas figuras representativas mencionadas.

 

Sei, muitas vezes pode parecer que a gente está só. O bullying provoca demais essa sensação. Mas a gente não está!

 

Um estudante que entra na ESPM conta com o apoio da escola em toda a sua jornada, na graduação, em quaisquer pós ou, ainda depois, como ex-aluno.

 

É para vida. É para viver bem. É para viver junto. É para estudar, trabalhar, conviver, enfrentar as dificuldades e ampliar cada vez mais a roda dos afetos, gerando sabedoria.

 

LEIA TAMBÉM:

Cyberbullying: dados, consequências e ações governamentais

Ir à escola fez falta…

Aprenda a fazer amigos na escola e em outros ambientes

 

 

Quer ver mais conteúdos do #tmj?

Preencha o formulário abaixo e inscreva-se gratuitamente em nossa newsletter quinzenal!

Você vai curtir

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on tumblr

INSCREVA-SE EM NOSSA NEWSLETTER