Professora de língua estrangeira explica quando aprender, por que é importante e como aproveitar os estudos ao máximo
Falar uma língua estrangeira é mandatório no mundo atual e quem não a domina, mas sabe que é necessário, pode ter dúvidas sobre a melhor idade para aprender um novo idioma. De acordo com Edilene von Wallvitz, coordenadora do ensino de Alemão e Português do Colégio Vértice de São Paulo, não existe idade limite e quem não fala outra língua precisa se atualizar. “Pensando no cenário da internet, quem não domina o inglês, por exemplo, dificilmente vai transitar com facilidade por todos os sites e as redes sociais, porque conceitos em inglês, inclusive, estão incorporados na língua portuguesa”, explica.
A questão vai mais além, porque o universo do trabalho precisa de profissionais que saibam pelo menos o inglês, já que se trata de uma língua universal. “Se a gente pensar no cenário do Brasil existem outras línguas estrangeiras que são bem interessantes. O espanhol, por conta do Mercosul, e eu acho que uma terceira língua interessante e o alemão porque São Paulo é a segunda maior praça industrial alemã fora da Alemanha”.
Qual a melhor idade para aprender um novo idioma?
Segundo Edilene, uma pesquisa do MIT aponta que 10 anos é a idade ideal para aprender um idioma, mas existem concordâncias e discordâncias sobre as faixas etárias. Alguns estudos citam que no bilinguismo, para uma pessoa falar fluentemente duas línguas desde pequena, o ideal é que a aprendizagem comece antes dos 7 anos de idade. “A criança precisa formar no palato a composição de língua para poder ter a pronúncia perfeita e falar duas línguas como um nativo”. Outra corrente defende que o aprendizado de um idioma comece depois da alfabetização na língua materna, que se consolida quando a criança tem por volta de 8 ou 9 anos.
É possível aprender uma nova língua na adolescência ou na vida adulta?
Sim. A aprendizagem de uma nova língua é possível para qualquer pessoa, independentemente da idade. Inclusive, tomar contato com um novo idioma na melhor idade é recomendado por médicos porque estimula a neuroplasticidade e melhora a cognição. “Várias pesquisas comprovam que o aprendizado de uma língua estrangeira na terceira idade previne diversos retrocessos do cérebro. Se você quiser manter a saúde do seu cérebro, aprender um idioma é uma das atividades mais importantes”.
A professora explica que a aprendizagem se relaciona com as habilidades do cérebro e existem indivíduos que têm mais ou menos facilidade. Quem aprende rapidamente vai entrar mais facilmente nesse ambiente da língua estrangeira e quem tem mais dificuldade tem que estudar muito e se esforçar mais, e vai ter mais dificuldade de pronúncia. Talvez a pessoa não consiga falar sem sotaque brasileiro ou ter uma pronúncia tão fluente, mas ela vai aprender.
O sotaque é importante no mundo do trabalho?
O mais importante é a comunicação, ou seja, se fazer entender adequadamente sem falar “portinglês” ou “portunhol”. “Eu penso até, inclusive, na correção gramatical que não precisa ser absoluta. No mercado de trabalho você precisa saber se comunicar. Você não precisa falar com a pronúncia britânica, australiana, canadense ou americana para se comunicar muito bem. O que vai dar prestígio é justamente domínio da língua”, explica Edilene.
Como escolher um curso?
É muito importante que a escola esteja atualizada nos métodos de ensino. Curso bom é aquele que prepara os alunos para as provas de proficiência, inclusive pensando no mercado de trabalho. A escola que capacita os estudantes para as provas de avaliação tem que trabalhar com um material atualizado, porque essas avaliações sofrem adaptações anuais. Os institutos que preparam para essas certificações precisam trabalhar com uma metodologia atualizada também, especialmente porque cada vez mais essas provas estão se voltando para o campo da comunicação.
Outro ponto fundamental é a formação dos professores. Uma pessoa que morou no exterior acha que pode dar aula e algumas escolas empregam professores que não têm formação didática. Da mesma maneira, muitas pessoas acham que um nativo é o melhor professor. “Mas isso não é verdade, porque ele não tem a didática e não conhece as dificuldades que um brasileiro tem numa língua estrangeira”, explica Edilene. “Então o professor brasileiro bem preparado e bem formado é melhor do que um falante nativo”.
Por fim, vale checar se existem outros tipos de curso na escola, como de conversação, e se a instituição de ensino oferece uma programação cultural fora da sala de aula, como sessões de cinema, peças de teatro, palestras, clube de leitura e outras atividades que podem ajudar no aprendizado extra curricular.
Qual é a periodicidade ideal para estudar?
Quando se fala em aprendizado de língua estrangeira, se fala em conhecimento ativo e conhecimento passivo. O conhecimento passivo é muito maior do que o ativo. Por isso é mais fácil as pessoas entenderem quando estão lendo e ouvindo, do que falar e escrever em outra língua. Isso demanda vocabulário e conhecimento ativo e é necessário tempo para aprender.
O tempo, entretanto, não se refere a horas/aula e sim a estudar além da sala de aula. Quanto maior o contato com o idioma em pequenas doses diárias, melhor. Uma pessoa pode ter duas aulas semanais, mas todo dia tem que acessar a língua, nem que seja assistindo um filme no streaming sem ler a legenda.
Se o objetivo é aprender rápido, cursos intensivos são eficientes, pois a pessoa fala outra língua diariamente e isso é muito positivo. “Mas você certamente não vai sair do intensivo tendo aprendido tudo, se além das 5 horas de aulas diárias do intensivo não tiver o seu momento individual com a língua”, explica Edilene. O estudante tem que fazer lição e retomar o que aprendeu na aula para dar tempo para o cérebro transformar o que foi ensinado em conhecimento ativo.
É importante diversificar os canais de aprendizagem?
Existem pessoas que são mais visuais, as que são auditivas e as táteis. Cada uma aprende de um jeito diferente e quanto mais canais de possibilidades de aprendizagem, melhor. Segundo Edilene, quanto mais experiências puderem ser exploradas, mais eficiente é aprendizagem.
A especialista cita a plataforma Kahoot!, que consiste em jogos de aprendizagem de outros idiomas. A pessoa se envolve com a competição e a emoção de ganhar, permitindo que mais conexões cerebrais aconteçam para levar esse conhecimento para a memória de longo prazo. “Quando se aprende uma nova palavra ela vai para a memória de curto prazo, mas você precisa de mais experiência com essa palavra para ela chegar na memória de longo prazo”, explica Edilene. Significa, então, que só frequentar as aulas não é suficiente.
Como estudar um segundo idioma fora da sala de aula?
Quanto maior exposição à língua estrangeira, mais fácil é o aprendizado. A professora lista 5 dicas para aprender de um jeito leve e eficiente:
- Assistir um filme sem legendas (ou sem ler as legendas) aumenta a exposição a um novo idioma. O mesmo vale para programas estrangeiros na TV, YouTube e podcasts. Quanto mais acesso à língua, maior o contato e a aprendizagem.
- Conversar com pessoas de outros países também ajuda. Isso pode ser feito nas redes sociais ou no Tandem, aplicativo que conecta pessoas de todo o mundo interessadas em ensinar e aprender outras línguas.
- Ouvir música tentando entender as letras e cantar exercita a escuta e a fala. Como as pessoas têm uma relação emocional com a música, é mais fácil de apreender.
- Colocar o celular na língua que está aprendendo e configurar o GPS ajuda a se acostumar com o novo idioma.
- Ler livros em língua estrangeira é um dos melhores exercícios para aumentar o vocabulário, aprender expressões idiomáticas e tomar contato com diversos tipos de linguagens – das atuais às mais clássicas e rebuscadas.
Vale a pena fazer intercâmbio?
Passar um período em outro país para estudar uma língua é ótimo. “Dois meses equivalem a um ano de aprendizado em sala de aula”, afirma Edilene. O estudo é mais bem aproveitado quando a pessoa já tem uma noção básica do idioma e vai para outro país adquirir fluência. Do contrário, quando faz intercâmbio para tomar contato com uma nova língua do zero, o estudo se volta para compreender o básico e a proficiência fica em segundo lugar. Para quem não pode fazer intercâmbio, o ideal é consumir muito conteúdo, conforme sugerido nas dicas acima.
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