Desinformação: 5 pontos para entender a propagação de conteúdos falsos na internet

Conheça algumas das estratégias utilizadas por quem produz conteúdos falsos nas redes sociais e saiba como identificá-los


As fake news, ou ‘notícias falsas’ em português, ainda são uma pauta muito frequente em diversas discussões. A pandemia de covid-19, por exemplo, foi um cenário em que aumentou a circulação de informações incorretas nas redes sociais. Alguns especialistas, inclusive, gostam de dizer que a atualidade está sendo marcada pelo que chamam de ‘infodemia’, ou seja, um grande fluxo de informações que se multiplicam de forma acelerada e em um curto intervalo de tempo.


De acordo com um estudo realizado pela Avaaz, uma rede cujo objetivo é a mobilização social global por meio da internet, durante o período de isolamento social, 9 em cada 10 brasileiros viram pelo menos uma informação falsa sobre o coronavírus. 70% dos entrevistados acreditaram em, no mínimo, um desses conteúdos enganosos sobre a doença.


A desinformação tem ganhado ainda mais destaque com a guerra na Ucrânia e a proximidade das eleições em 2022. Para entender melhor esse fenômeno e como ele se comporta, a equipe do #TMJ conversou com Sérgio Lüdtke, jornalista e editor do Projeto Comprova, uma iniciativa da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) que faz a checagem de fatos.


O que é desinformação


Segundo o especialista, desde que o debate sobre desinformação começou a ganhar força em 2018, esse tipo de conteúdo é muito associado a uma espécie de boato, ou seja, uma informação com dados passíveis de investigação. No entanto, Lüdtke também explica que, hoje, tal definição já pode ser considerada ultrapassada. “Eu entendo a desinformação como um processo que leva as pessoas a firmarem convicções equivocadas a partir do consumo de conteúdos que são também enviesados, enganosos ou até deliberadamente falsos”, afirma. “É muito difícil fazer essa tipificação sobre a desinformação, porque muita coisa cabe aí. Você pode encontrar desde conteúdos satíricos e informações equivocadas de fatos até algo que é absolutamente fabricado”, completa.



Por que conteúdos falsos circulam mais atualmente


De acordo com o profissional, o cenário das redes sociais foi um fator que contribuiu para que esse tipo de conteúdo fosse disseminado com mais velocidade. “As pessoas sempre foram atores importantes na dispersão do conhecimento. Mas, até o surgimento da internet e das redes sociais, a gente ainda tinha uma linha de dispersão da informação. Era algo muito vertical, havia uma hierarquia”, comenta. “Não que não houvesse desinformação antes. Só que agora, as pessoas têm um empoderamento e, muitas vezes, nem sabem que têm esse poder. E, por isso, pode causar tantos danos”, acrescenta. “Essa configuração da rede é fundamental para que você tenha, com a instantaneidade que se tem hoje, a dispersão desses conteúdos”, finaliza.



O que leva as pessoas a acreditarem nas mentiras


Segundo Lüdtke, os produtores de desinformação procuram fazer conteúdos que trabalhem com a emoção de quem vai consumi-la. “A pessoa que produz esse tipo de conteúdo precisa fazer algo atrativo e, para fazer isso, ela busca emoção. Ela procura algum tipo de reação emocional para aquilo que ela está trazendo”, afirma. Por esse motivo, o especialista argumenta que, um ponto crucial no momento de investigar se determinadas informações são realmente falsas é entender as motivações de quem as produziu.

“É importante entender quais são as motivações das pessoas por trás disso e olhar lá na outra ponta o efeito que esse conteúdo provocou, que impacto ele teve”, comenta. “Ele se entrega como um conteúdo de desinformação a partir do momento que as pessoas reagem a ele. Não se pode esconder esse impacto. As pessoas se manifestam, fazem comentários, trazem outras informações que tentam cada vez mais enviesar aquela publicação”, reflete. “Olhar para os comentários e para como as pessoas reagem a isso, nos dá um quadro mais completo de como funciona esse processo da desinformação”, sugere.



Como as bolhas colaboram para a desinformação


Para o jornalista, o isolamento digital das pessoas em grupos que compartilham os mesmos tipos de interesse e as mesmas visões de mundo colabora para a proliferação de conteúdos falsos. “As pessoas que têm convicção sobre coisas que são enganosas já não precisam mais de uma dose diária de desinformação. Elas ficam absolutamente suscetíveis a qualquer dúvida que se possa lançar”, diz. “Qualquer dúvida que possa reforçar essas novas convicções já é suficiente”, adiciona. Ele ainda reforça que qualquer pessoa pode ser alvo ou vítima desse tipo de conteúdo. “É uma ferramenta utilizada por pessoas que querem, de alguma forma, intervir no debate público. Ela vai utilizar a desinformação para fazer vingar as suas ideias de mundo”, explica.

 

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Por que conteúdos falsos são disfarçados de notícias


Muito além de causar suspeitas e provocar dúvidas, esse tipo de conteúdo também tem o objetivo de se parecer com algo verídico para que as pessoas acreditem no que ele diz. Por isso, muitos deles procuram fazer uma apresentação que se assemelhe com o trabalho feito pelos profissionais da imprensa tradicional. No entanto, ainda assim é possível identificá-los.

De acordo com Lüdtke, a desinformação apela para o imediatismo e procura uma reação instantânea do seu consumidor. Por esse motivo, muitas delas apresentam apenas um ponto de vista sobre determinados assuntos. Os erros de português também são muito frequentes – o que dificilmente acontece quando a origem do texto é uma redação jornalística. Outra recomendação do profissional é procurar veículos de comunicação que adotem políticas de erro claras. “A gente não vai encontrar isso em veículos que se fazem passar por jornalísticos”, afirma. “Essa confiabilidade é importante”, completa.

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