“Acho que me viciei em redes sociais…”

Em tempos de isolamento social, o título deste post tem virado um lugar-comum nas conversas que tenho tido com pessoas de todas as idades


Inimaginável enfrentar os últimos meses sem as redes sociais. Aliás, já seria antes mesmo da pandemia… Elas servem como lazer, como ponto de encontro com os amigos, como meio de informação, como passatempo e, sem dúvida, sua inexistência tornaria ainda mais cruel a experiência do isolamento social. E não apenas para “encontrar pessoas”, mas para receber e trocar informações sobre tudo (principalmente a pandemia) e não perder a conexão com o mundo. Uma coisa, porém, tem chamado minha atenção recentemente: a quantidade de gente dizendo que se viciou nas redes sociais…


Este texto não tem qualquer pretensão científica, pois não se trata de uma pesquisa. Fato é, porém, que resolvi ir atrás de mais informações dessas pessoas que se dizem “viciadas”.

Os detalhes e as explicações dadas por elas são bem variadas – e eu tentei organizar os sintomas em algumas categorias.


O PRAZER DE DISCUTIR

Esta foi a categoria que disparou na minha pequena enquete. Sim, as pessoas acharam uma maneira de extravasar suas ansiedades e sua energia acumulada debatendo sobre qualquer coisa nas redes – desde se é biscoito ou bolacha até sobre posicionamentos políticos.

O curioso é que, quando estimuladas a dizer por que discutir com “estranhos” ou até mesmo com amigos que conhece na vida real, surgiu um traço em comum: extravasar nas redes diminui as chances de você se estressar com alguém com quem se está confinado. Soa pertinente…

O segundo motivo é que, por estar confinado com a(s) mesma(s) pessoa(s), o repertório de opiniões meio que é conhecido. Aí, em vez de você “jogar a toalha” e deixar de comentar ou debater, você busca novos “oponentes” no debate.

O terceiro motivo que surgiu é o de recriar a sensação de pertencer à sociedade, de não estar totalmente alheio ou isolado.


SE INFORMAR

Se antes as pessoas liam jornais, viam TV, ouviam rádio ou circulavam por portais de notícias, hoje as redes fazem com que o contato com as notícias seja “acidental”: se alguém das suas redes posta, você fica sabendo (e se sente bem informado).

As pessoas ouvidas por mim disseram se sentir confortáveis com esse modo de se informar: é como se fosse uma enorme vitrine, onde têm a possibilidade de passar os olhos por tudo (leia-se: dar uma olhada nos títulos e fotos) e, caso algo chame sua atenção, elas dizem ir em busca de maiores informações (leia-se: clicar na notícia).   

O maior problema desse modo de se “informar” é que os algoritmos, somados às suas escolhas e relações, alimentam o que chamamos de “bolhas”. Além, claro, de facilitar nossa exposição às chamadas fake news…

A maioria das pessoas, ao ser questionada sobre isso, disse não se importar. Afinal, não têm muita vontade de saber sobre os que pensam de modo diverso delas…

De qualquer forma, a maioria também se disse meio “enjoada” de tanta notícia. É o que a OMS chamou de “infodemia” – sobre o excesso de informação. Mesmo assim, é irresistível ficar horas olhando tudo aquilo…


LAMENTAR/FESTEJAR

As pessoas ouvidas dizem que é bom poder lamentar as coisas ruins ou festejar as coisas boas que estão acontecendo na vida delas em público – como se estivessem comentando com algum colega de trabalho ou de escola na hora do café. É uma forma de “dar sentido” ao que se está vivendo. Até aí, nenhum problema…

O que eu (repito, sem nenhum embasamento científico) percebo é que essas coisas se tornam o modus operandi das pessoas nas redes: as pessoas não querem (ou não conseguem) mais trocar ideias. E despertar sentimentos (de pena, solidariedade ou até inveja) parece ser um caminho de contato.

Quem quer empatia, pena ou apenas “plateia” para sua vida acaba expondo mais do que deveria – mas, pelo visto, menos do que desejaria, pois continua a fazê-lo cotidianamente. O mesmo vale para quem transforma qualquer cafezinho feito em casa num acontecimento extraordinário, digno de fotos sorridentes como se estivessem num resort 6 estrelas. Aí, acho que as pessoas perdem um pouco a dimensão real das coisas – tanto as boas quanto as ruins.


Fica aqui, então, minha torcida para que, de alguma forma, as pessoas consigam fazer um “detox” das redes e voltem ao modo vida real das trocas e interações sociais. Sob o risco de uma parte das pessoas não conseguir mais sair do refúgio do universo digital – e viver para sempre nessa matrix…

 

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