Encontrar respostas para tudo nas redes requer cuidado, para não perdermos nossa individualidade, nosso livre arbítrio e (principalmente) nosso senso crítico
“Existem 1000 maneiras de preparar Neston. Invente a sua” foi um slogan utilizado por muitos e muitos anos – e ficou tão fortemente gravado na memória afetiva do brasileiro que até mesmo quem nunca viu uma dessas propagandas conhece a frase. Talvez por ela ter ultrapassado as fronteiras da publicidade para se ressignificar como uma metáfora da própria vida.
Explico: em tempos nos quais terceirizamos para o Google nossa memória (vai dizer que nunca correu para lá em vez de se esforçar para lembrar o nome de alguém famoso…) e que tutoriais nos ensinam absolutamente tudo o que queremos “aprender”, é fácil acharmos que está tudo ali, pronto para nosso consumo – e para fazermos daquilo a nossa “visão” do mundo.
O resultado disso já vemos no nosso cotidiano: a polaridade. Sim, a vida ficou fácil: ou você é a favor ou você é contra (uma ideia, uma pessoa…). Sem espaço para outra posição… E mais: a depender de nossas bolhas, nem precisamos pensar, pois basta esperar que esse “organismo” deixe clara a posição na qual “acreditamos”. E, dessa forma, embarcamos em opiniões que “achamos” ser a nossa. Sem pensar. Sem analisar. Sem decidir…
E o que o slogan de Neston tem a ver com isso? Ele é um convite cada dia mais atual e necessário para que inventemos nosso modo de enxergar a realidade e de pensar sobre ela. O medo de cancelamento, dos haters, do que as pessoas vão achar ou deixar de achar (e, supremo sofrimento, de não “pertencer 110%” a um grupo) nos domestica. E deixamos de ser originais, deixamos de ser questionadores, deixamos de ser… nós mesmos.
Responda rápido: das últimas 10 tretas que tomaram de assalto a internet, quantas vezes (e quanto tempo) você realmente se aprofundou no tema, buscou reunir o máximo de informação, pesou argumentos de todos os lados e firmou seu próprio pensamento sobre os fatos?
Como diz o título deste pequeno texto, não existe tutorial para a vida – e nem para ser você mesmo. Por isso, deixo o convite: invente a sua maneira de preparar seu Neston…