Durante muito tempo, um curso superior servia como formação de mão de obra qualificada para o “mercado”. Hoje, não mais…
Qual a maior empresa de transporte urbano do mundo?
Uber.
Quantidade de carros = 0
Quantidade de motoristas contratados = 0
Qual a maior rede de hospedagem do mundo (apesar da crise da pandemia)? Airbnb
Quantidade de quartos próprios = 0
Quantidade de arrumadeiras, consierges, carregadores etc. = 0
Esses dois exemplos mostram como uma mudança de paradigma (podemos discutir horas a fio se boa ou ruim, certo?) fez com que o mundo do emprego abrisse espaço para o mundo do trabalho.
As pessoas trabalham “com” Uber e Airbnb – e não “para” Uber e Airbnb.
O que isso tem a ver com quem hoje pensa em entrar numa faculdade? Esse fenômeno tem afetado boa parte das carreiras, praticamente transformando qualquer profissional em um profissional liberal – como um dentista, em médico ou um advogado, que geralmente trabalham de maneira solo ou, caso queiram, empregados em consultórios, hospitais e clínicas ou escritórios e departamentos jurídicos de empresas.
Para ter essa opção, de ser um profissional liberal, é necessário municiar os futuros profissionais com o ferramental necessário para isso. Ou seja: além das questões técnicas e de formação humanística, será vital para um jovem profissional ter condições de administrar sua própria carreira ou, se assim quiser, empreender.
Algumas profissões aprenderam meio que na marra essa nova realidade. Um exemplo são os atores. Antes, eram apenas os rostos e corpos que encarnavam personagens diversos em peças, filmes ou novelas para os quais eram convidados – ou para os quais seus agentes conseguiam testes (ou audições). Com o tempo, esses profissionais entenderam que não valia a pena ser reféns da máquina.
Hoje, poucos são os atores que sonham com (ou conseguem) contratos longos com uma emissora de TV. Primeiro pela própria mudança no mercado: hoje as emissoras preferem contratar por “empreitada” – ou seja, por trabalho. Segundo porque, cada vez mais, artistas querem escolher seus projetos, sem exclusividade, gerenciando todos os aspectos de sua carreira.
Dessa forma, hoje a maioria se tornou mais do que apenas profissionais da atuação: hoje eles escolhem seus projetos e os gerenciam – assim como suas carreiras. Em uma peça de teatro, por exemplo, escolhem o texto, compram os direitos dos autores, negociam patrocínios e, claro, produzem seus próprios filmes, peças etc.
Isso tem impactado de modo profundo muitos cursos de graduação. Vamos pegar, por exemplo, a carreira no Jornalismo. Até 20 anos atrás, o plano era um só: se formar e tentar entrar em uma grande empresa/redação de TV, jornais, rádio ou revistas e seguir a trilha. Ou enveredar pela assessoria de imprensa em um escritório ou no departamento de comunicação de uma grande empresa.
Hoje, diante de exemplos empreendedores como youtubers, influencers, tiktokers, blogguers, vlogguers etc., além de iniciativas de modelos de negócios bem-sucedidos como as plataformas Nexo ou Agência Mural (que oferecem um jornalismo diferenciado como conteúdo, forma e negócio), é preciso pensar no “como” ser jornalista – e não mais no “onde”.
Nomes que se consagraram no Jornalismo em veículos tradicionais, cada dia mais, se tornaram seus próprios produtos. Saíram dos seus empregos e hoje estão em vinte lugares diferentes: comentam numa rádio, postam em plataformas ou canais digitais próprios, em redes sociais, publicam textos em diversos jornais e, se der, fazem uma ponta em telejornais.
Esse fenômeno pode acontecer com muitas outras carreiras. Um engenheiro pode ser um profissional com uma carreira muito interessante, engajando-se em projetos diversos. O mesmo com um monte de outras profissões.
Nesses novos tempos em convulsão, podemos até não saber o que será o amanhã. Mas já temos uma boa ideia de para onde estamos caminhando… Por isso, ao escolher um curso, seja de que área for, veja se a escola escolhida oferece um bom tripé: formação técnica, formação humanística e formação empreendedora/gerencial – e, em vez de emprego, construa uma carreira com autonomia (ou, ao menos, tenha essa possibilidade).