Jornalistas falam sobre como as empresas de tecnologia mudaram o ecossistema de produção de notícias
Você provavelmente já ouviu falar que o jornalismo é o quarto poder. Essa associação é proveniente da ideia de que o trabalho de quem atua nessa área é fundamental para a sociedade. Apesar de ainda ser relevante, essa influência tem sido colocada em xeque por conta do crescimento das big techs.
A dinâmica da relação entre os meios de comunicação e as empresas de tecnologia na atualidade foi tema de uma das palestras do 19º Congresso da Abraji, realizado na ESPM São Paulo. O painel contou com a participação de Suzana Barbosa, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (FACOM-UFBA), e Tatiana Dias, editora do Intercept Brasil.
A relação entre jornalismo e big techs é assimétrica
Segundo as especialistas, a popularização das plataformas digitais promoveu transformações nas práticas jornalísticas e estabeleceu uma relação assimétrica entre as big techs e os veículos de comunicação. “O contexto que nós temos atualmente é de um sistema de mídia híbrido, é um sistema de mídia que foi totalmente afetado por essa propagação do monopólio das empresas de tecnologia na indústria de notícias”, explica Suzana.
Hoje, o jornalismo não é mais o protagonista quando se trata de distribuir informações. “O jornalismo já não origina o ciclo informativo, porque as pessoas estão consumindo o conteúdo, principalmente via redes sociais, e são levadas a consumir por meio dessa distribuição que tem as big techs por trás”, afirma Suzana. “A distribuição de conteúdo jornalístico ficou absolutamente refém das decisões comerciais dessas plataformas em relação ao que deve ou não ser exibido nos feeds das pessoas”, completa Tatiana.
Como isso impacta a cobertura jornalística?
De acordo com as palestrantes, as plataformas digitais têm os seus próprios critérios para definir o que é relevante — o que interfere, por exemplo, na escolha de pautas e na elaboração de títulos. “As plataformas acabam oferecendo informações para que a gente fique domesticado, para que a gente aprenda a falar a língua delas e produza conteúdos de acordo com os interesses comerciais dela”, diz Tatiana. “A indústria vai criando os seus modos de fazer jornalismo. Não é que vai ter uma censura ou uma influência direta. O negócio é muito maior, muito mais amplo e, por isso, a gente tem que ficar de olho”, acrescenta.
Como continuar fazendo jornalismo nesse contexto?
A sugestão das jornalistas para essa questão é investir em conteúdos voltados para um nicho específico e que tenham como premissa a qualidade, e não a quantidade. Para elas, essa é uma estratégia para aproximar os veículos de seus respectivos públicos. “A gente entra em um conflito e fica pensando que precisa de audiência, que precisa seguir certas tendências para conseguir audiência. Mas a gente precisa tentar achar um jeito de pensar menos em quantidade e mais em qualidade”, comenta Tatiana.
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