Tem a sensação de que, nas redes, o mundo inteiro pensa como você? Talvez você seja refém das bolhas, espécie de “safe place” criado pelos algoritmos para evitar “confrontos” e satisfazer seus desejos
Faça o teste: junte cinco ou seis amigos ou familiares e peça para que todos façam uma busca sobre algum assunto, com as mesmas palavras e ao mesmo tempo, no Google ou em outro buscador qualquer. Na sequência, compare os resultados. 99,99% de chance de não haver um só resultado igual. Ué, mas por quê?
Simples: os algoritmos utilizados por buscadores e redes sociais são treinados para entender você, seus desejos, sua forma de pensar ou de ver o mundo – eliminando tudo o que não estiver alinhado a isso. É como se nossos pais, na infância, nos dessem somente chocolates, refrigerante, doces e balas, no lugar de verduras, legumes, saladas e outros alimentos mais saudáveis.
Recentemente, esse e outros aspectos não tão agradáveis dessa realidade foram expostos por Frances Haugen, ex-diretora de Integridade Cívica do Facebook em uma denúncia ao programa “60 Minutes”, da rede americana CBS.
Além de criar em nós a (falsa) sensação de que todo mundo concorda conosco, a busca por conteúdos que fortalecem nossa visão de mundo pode, além de nos fazer querer “sempre mais”, nos expor a conteúdos pouco confiáveis e, sim, fake news. Afinal, dar aquilo que queremos e com a visão de mundo que temos garante satisfação (“viu, estou certo”) e enfraquece a formação de senso crítico. Isso porque ele só pode ser resultado de um olhar 360o de qualquer assunto.
E tudo isso acontece de modo cruelmente dissimulado: nos entregam uma visão de mundo que se adapta integralmente àquilo que inicialmente pensamos e, em pouco tempo, e sem perceber, estamos buscando nas redes a informação de “como” pensamos sobre qualquer assunto. Isso mesmo: sem pensar muito, indo na onda das bolhas, somos dissimuladamente “informados” sobre o que “pensamos” a respeito dos mais variados assuntos.
Ou você acha que todo mundo entende de Direito, Medicina, Engenharia e todos os assuntos do mundo, como querem fazer crer os posts de pessoas que conhecemos? Sim, esse é mais um dos efeitos corrosivos das bolhas: os argumentos e opiniões são facilmente rebatíveis, copiáveis e assumidos como “nossos” – o que nos faz ser (ou parecer) mais inteligentes e antenados com TUDO o que acontece no mundo. Quando, na verdade, estamos sendo carregados como numa enchente e espalhando opiniões (que nem sempre são nossas) como sementes ao vento. Mas de uma forma divertida… E viciante!
Como escapar? Por mais que seja irritante, enervante, aborrecido (ou seja lá como qualifica a experiência), navegue fora da bolha. Siga pessoas de diferentes matizes ideológicos, de diferentes profissões e localidades. Ao se expor a visões distintas do mundo, deixamos de ter respostas prontas sem sabermos direito quais são as perguntas. E teremos menos certezas, mais dúvidas e, com isso, maior alcance no exercício do pensamento crítico. E nem precisa mudar de ideia e nem de opinião: o que muda é que elas serão realmente suas.
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