Me fizeram essa pergunta um dia desses. Difícil de responder – e mais ainda de entender por que é preciso explicar…
Essa é uma pergunta que, talvez, fosse melhor nunca ter de ser feita – e nem respondida. Paulo Francis já chamou o Jornalismo de “a segunda profissão mais antiga do mundo” – sendo que a “primeira mais antiga” nunca precisou ser explicada… Daí o meu espanto.
Infelizmente, num exame de consciência, chego a um “mea culpa”: é de nossa responsabilidade, de nós jornalistas, o fato de as pessoas precisarem de explicação. Explico: durante muito tempo, a arte de informar foi interpretada como um salvo conduto para a arrogância de quem tinha o simples dever de traduzir o mundo, contando os acontecimentos cotidianos para os demais (opa, acho que consegui explicar o que é Jornalismo!).
Por não entendermos que não se faz Jornalismo para o coleguinha ou para nós mesmos, tornamos o resultado de nosso trabalho algo que não dialogava com quem estava na outra ponta da informação: nossos leitores, nossos ouvintes, nossos telespectadores… O abismo entre “nós” e “eles” só fazia crescer.
E nós, os jornalistas, fomos nos tornando seres que detinham o “conhecimento do mundo” – mas apenas uns poucos e bons reuniam capacidade para realmente entender a mensagem. Pergunte a um cidadão médio o que ele entende da maioria das reportagens sobre economia, por exemplo.
De repente, com uma reviravolta que destruiu certezas e abriu uma caixa de Pandora, o Jornalismo não estava mais sozinho como fonte de informação – e, apesar de ter natureza e regras próprias, entrou no mesmo pacote do que a gente chama de “conteúdo”. E começamos a disputar a atenção das pessoas com publicidade, conteúdo patrocinado, entretenimento, memes, WhatsApp… Deveria ter sido um sinal de alerta, não?
De repente, não mais que de repente, blogueiros, vlogueiros, influencers e outros seres do novo ecossistema da informação passaram a produzir conteúdo – e, melhor (ou pior, se visto da nossa posição): com uma proximidade que alavanca audiências sob a forma de “seguidores”. Sim, são quase como “novos Messias”. E os jornalistas, ainda do alto de seu pedestal, ignoraram ou menosprezaram as revoluções em termos de plataforma, linguagem, narrativas, embalados pela segurança (real) de pautar bem, reportar bem, editar bem e produzir informação de qualidade. Pena que, como diria Garrincha, não combinaram com os russos…
Pegue Whinderson Nunes: são 40,3 milhões de inscritos em seu canal do Youtube (com mais de 3 bilhões de visualizações) – sem falar dos quase 16 milhões de seguidores no Instagram. E tudo isso falando português! Um dos maiores jornais do mundo, o The New York Times, chegou a 7,5 milhões de assinantes digitais.
Por favor, não estou comparando o que um youtuber/influencer faz com o que faz o The New York Yimes. Porém, só cheguei até aqui para justificar meu espanto diante da pergunta “o que é Jornalismo?”. Se a gente precisa mesmo explicar, é porque não estamos dialogando com as pessoas. No dia em que não seja preciso explicar o que é Jornalismo, talvez a gente esteja de volta ao jogo.
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