Prestes a completar 50 anos de profissão, jornalista conversou com a garotada do Linkados na Área sobre sua carreira e os desafios e prazeres do jornalismo
Processos, frio na barriga e erros fazem parte da rotina do jornalismo. É o que afirmou Juca Kfouri, 69 anos, em um bate papo com a garotada do Linkados na Área, programa realizado pelos alunos de jornalismo da ESPM em São Paulo. O jornalista, que completará 50 anos de profissão em 2020, falou sobre sua carreira e os desafios e prazeres do jornalismo. Com base nessa conversa, fizemos uma lista com lições de Kfouri sobre a área. Confira a seguir:
1. Ser processado faz parte do jogo
“É muito chato você ser processado. Eu já fui mais de 100 vezes. Tem que ir ao fórum, conversar com o juiz – sabendo que quem está te processando no fundo quer te calar, te intimidar – e você tem que ouvir toda aquela demagogia. É muito chato, mas eu diria que são ossos do ofício”.
2. Jornalistas erram e devem reconhecer isso
“Jornalista sabe a ponta do iceberg, 3%, e olhe lá. Na busca de revelar esses 3% cometem muitos equívocos. Tem uma maneira muito simples de você resolver os equívocos: é dizer que errou. O ‘erramos’. As pessoas adoram, acham que é uma demonstração de humildade, quando é apenas uma obrigação”.
3. O frio na barriga nunca acaba
“Na hora em que acabar o frio na barriga, pega suas coisas e vai embora, se aposenta”, disse Juca ao responder sobre seu sentimento depois de cobrir várias copas do mundo. “A mesma sensação que tive ao entrar no avião e decolara para a Espanha em 1982, tive ao decolar para Moscou em 2018, nove copas depois. O mesmo frio na barriga”.
4. Jornalista não é despachante
“Acho que nossa imprensa foi mal no lavajatismo. Não se investigou bulhufas. Assim é fácil fazer jornalismo: cai tudo no seu colo e você não checa, não vai atrás para saber se é aquilo mesmo. Você simplesmente se limita a publicar, despacha. Isso não é coisa de jornalista. Isso é coisa de despachante. Vem no seu colo, você carimba e manda adiante. Foi o que se fez”.
5. Mídia impressa precisa tratar melhor o pós-notícia
“Na minha modesta opinião, nossa imprensa escrita tem um grande problema que até agora não conseguiu resolver que é tratar da pós-notícia”, comentou Juca. “Me deixa profundamente angustiado quando vejo que no domingo você foi dormir sabendo que a Argentina tinha um novo presidente, eleito com 47% dos votos, e na segunda os jornais chegam a sua casa dizendo: ‘Argentina elege novo presidente’. Ao invés da manchete ser: ‘Para onde vai a Argentina, ‘O que significa isso para as relações com o Brasil’. Ou seja, dar uma coisa além daquilo que você já sabe. Se morre o Papa, o El País diz ‘Para onde vai a igreja católica’, aqui ainda damos ‘Morreu o Papa’.
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Confira a entrevista completa no vídeo abaixo: