Uma pequena reflexão acerca das ansiedades sobre como estamos vivenciando este longo tempo isolados
“Era hora de eu estar vivendo tudo o que a vida pode oferecer”, lamentou um jovem aluno de graduação, em conversa (pelo computador) sobre os tempos que vivemos. Confesso que, na hora, não consegui responder: nada que eu dissesse seria melhor que o meu silêncio.
Passados alguns dias, sem conseguir esquecer a força da franqueza naquela conversa, me peguei tentando achar algo de positivo. Sim, há que se tirar algo de bom dessa experiência acachapante. O mais triste seria sair disso sem colher nada…
Acho que a primeira coisa a se lembrar disso tudo foi que o terremoto tirou nossos narizes das coisas “abstratas” e imateriais do mundo digital para nos jogar no meio de algo real. Trocamos o frenesi das coisas descartáveis pela volta ao básico: a preocupação com o que importa, com coisas bem comezinhas do cotidiano. E muitas delas, antes insignificantes, voltaram a encantar. Digamos que seja uma “recalibrada” nas prioridades…
Quer um exemplo? A sensação de que tudo é urgente. De que nada pode ser deixado para depois. De que a gente vai morrer se não fizer algo, não encontrar uma pessoa, não for a àquele lugar… O antes insuficiente dia de 24 horas agora “sobra”. Não fique pelejando para preenchê-lo.
Algo que pode ajudar é encontrar sua “versão unplugged”. Sim, dá uma baita vontade de ficar o tempo todo ligado na internet, nas redes sociais, trocando mensagens com amigos. Esqueça. Quer ler? Leia. Quer dormir? Durma. Quer maratonar uma série? Maratone. Mas lembre-se: o seu compromisso, agora, é com você. Esse não dá para furar…
Logo, você vai entender que precisa de “algo mais” para se sentir melhor. Aprender a fazer algo novo? Voltar a fazer algo que abandonou?
Tempo, todos estamos aprendendo, é algo precioso (e termos tanto tempo como agora, para ser preenchido, cria um paradoxo: podemos estar gastando tempo bom com coisas banais).
Mas, por quê? Porque uma hora, mais cedo (tomara) ou mais tarde (tomara que não), isso vai passar. Eu brinco que é “a volta dos que não foram – a lugar algum”.
Para quem sempre reclama de que não tem tempo para nada e nem para si mesmo, ficar com a sensação de que teve tempo e não fez nada (nem por si mesmo) pode ser mais deprimente do que o próprio isolamento…
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